20 de março de 2013

REVISTA ESPINHO D'ÁGUA



Há mais ou menos uns oito anos atrás, eu acordei de um sonho com um nome na cabeça: "Espinho D'água". Não sei qual a explicação para esse nome; não tem significado ou simbologia, mas admitamos, soa bem. A principio me pareceu apropriado usar esse nome para batizar um clube, Clube do Espinho D'água. Seria um clube, uma espécie quase de maçonaria de artistas, entre escritores, músicos, artistas plásticos, atores, etc.
Mudei rapidamente de ideia; achei que deveria ser o nome de uma revista. Revista Espinho D'água. Seria impressa aos milhares, com dezenas de artistas colaboradores.
Bom, deixei de lado a ideia ilusória de um tolo solitário que tinha muitos sonhos e aspirações aparentemente impossíveis de serem alcançadas.
Pois bem, todos esses anos se passaram. Batizei esse blog com esse nome. E ele nunca me saiu da cabeça. Recentemente, pelo caminho, encontrei com outros artistas extremamente proativos, que impulsionaram e transformaram aquilo que era só uma ideia em algo hoje material e real.
A Revista Espinho D'água.
Digital, bem acabada, junto com um site de mesmo nome.
Isso me fez refletir sobre outras coisas da minha vida. Tudo tem seu tempo. A revista levou mais de oito anos para se tornar algo real e palpável  naturalmente, teve seu tempo. Não era para ter sidi feita antes; hoje é o seu momento, como tudo na vida. Lutar contra a força daquilo que tem sua ordenação natural talvez seja um erro que impossibilite a própria realização daquilo que tanto se quer.
Tudo tem seu tempo
E hoje é o tempo da REVISTA ESPINHO D'ÁGUA.
Convido a todos para lerem e a opinarem, aqui, suas opiniões são muito bem-vindas, lidas, ponderadas e, na medida do possível, respondidas. ok!

Até.

7 de outubro de 2012

BORBOLETAS AZUIS




Foi lançado recentemente o livro "Borboletas Azuis - Um amor além da vida" do autor "Kiko Zampieri". Contada de maneira rica em detalhes de cenários e sentimentos de uma história ambientada em meados do século 19, a história contada do amor entre Leon e Das Dores, um amor que resiste ao tempo e transcende o transitório. Nesse livro de estreia, Kiko Zampieri defende o seu ultra-romantismo e revela um cuidado sensível na descrição de personagens, de ambientes e de fatos históricos que enriquecem a trama. Vale a pena conferir essa história nos mostra que a força de um sentimento pode vencer a força do tempo.

Para maiores, e melhores, informações, abaixo estão os contados do livro e do autor:






30 de setembro de 2012

LET'S ROCK



Deixemos de lado as frases feitas e o discurso auto-comiserativo
Deixemos para trás o passado e o seu peso
Deixemos as culpas e mágoas pra lá e saiamos ilesos
Livremo-nos das ilusões que nos cegam
Vivamos o tempo presente
Sigamos nossos própios passos e não o que nos pregam
Façamos uma coisa de cada vez
E, de vez em quando, um pouco de tempo pra pensar
Vamos viver como se deve
Sem dever ou cobrar nada a ninguém
Viver o agora e não além
Estar aqui e não aquém

Hey ho Let's go, let's move
right here e right now!!!!!!
All right fellas!!!


23 de setembro de 2012

MAZEL TOV (Conto)

"Depois de muito refletir, cheguei à conclusão do que devo fazer".
"É mesmo?".
"Tenho planos".
"Planos?".
"Sim".
"E o que pretende fazer, então?".
"Amanhã vou acordar cedo e, como nunca antes, estarei desperto, animado e esperarei o nascer do sol; receberei os primeiros raios do sol de um novo dia com a esperança, antes combalida, agora renovada. No peito haverá a certeza de que algo melhor está reservado para mim. Tudo que até então deu errado, dará certo. O sucesso vai sorrir para mim, e a felicidade estará mais próxima de se tornar real e duradoura. A tristeza de hoje, essa melancolia e essa dor no coração será amainada pela luz de um dia que servirá de prenúncio para um novo tempo; um tempo de novas possibilidades, de menos incertezas. Um tempo de mais paz de espírito. Tomarei um café da manhã reforçado, com tudo que qualquer pessoa tem direito; comerei até me fartar, sabendo que os dias em que passei fome e vivi na miséria ficaram para trás. Assim como ficará para trás toda a raiva, o rancor e todas as mágoas de tudo e de todos que, de alguma maneira, me machucaram; faz parte do plano. Sairei nas ruas, sentirei o calor, a brisa, o vento quente, estarei livre, desprendido de qualquer coisa ou sentimento que possa me prender. Ouvirei os sons que antes me ensurdeciam. Serei atento ao belo que sempre esteve ali, fulgurante aos meus olhos, mas que antes não queria, ou estava disposto a ver. O belo, o prazeroso, o agradável ao paladar e às narinas; à tudo estarei ávido e aberto. Cumprimentarei todo e qualquer estranho na rua, farei favores a desconhecidos, agradecerei a favores que ninguém me fez; distribuirei sorrisos e gestos cordiais. E direi o que penso sem me achar ingênuo ou inepto; darei opiniões e pedirei conselhos, pedirei mais uma chance e oferecerei meu ombro para o consolo de qualquer infortúnio alheio. Vou cantarolar os versos de uma música que não existe; tirarei quem cruzar meu caminho para dançar a valsa vienense. Direi que sim, existe o céu, que Deus existe, que ele nos ama e que dará uma nova vida a qualquer um queira e que se redima de tudo de errado que tenha feito até então. Direi sim aos que disseram que sou louco, insano, ridículo. Sou isso mesmo; isso e não apenas isso. Darei um basta aos sentimentos que me oprimem; me libertarei de tudo que me apequena, inclusive o medo de errar, o medo de ter medo, o medo de qualquer coisa que seja. Exercitarei ao extremo a arte do desapego. Viverei os dias que me restam da forma como acho de devo vivê-los, e não como até agora, seguindo as indicações de quem não sente o que sinto, nem sofre o que sofro. Darei eu mesmo o norte à minha vida. Escrevei poemas, declamarei salmos; erguerei monumentos à amores e causas legítimas e impossíveis. Brindarei ao nada que fui, que sou, que tenho e ao futuro que não me pertence. Farei tudo à exaustão, até o fim, até o osso, até o talo; sempre no volume máximo, sempre exibindo o coração partido à frente, sem temer o não; sem fingir indiferença, sem gaguejar, sem tropeçar nas palavras, sem trançar as pernas e sem cair de quatro. Andarei com os pés descalços, tomarei banho de chuva e perderei a vergonha na cara. De hoje em diante a toada vai ser essa, sem meio termo, meias palavras, ao sabor do vento e do destino".
"É isso?".
"Sim; o que acha?".
"Bem, só posso lhe dizer uma coisa".
"O que?".
"Mazel Tov".

8 de abril de 2012

O TEMPO, A VIDA... (ou mais de 11.690 dias)







Dizia o jingle: "O tempo passa, o tempo voa, e a poupança bamerindus continua numa boa". O tempo passa, sim, mas nem sempre voa, às vezes se arrasta, e a gente, à toa, assiste a banda passar, como na música do Chico Buarque. E nem sempre se continua numa boa, a poupança bamerindus, assim como o próprio banco, nem se quer existe mais. O tempo a tudo vence, tudo destrói, mas em certos momentos, nos ajuda a recontruir algo em nós mesmos. Aprendi com o tempo. Com a vida. Com os amigos. Com Deus. E sobretudo com as coisas erradas que fiz. E ainda aprendo, ainda quero aprender e evoluir mais, mesmo sem saber como. Mas é assim que se aprende, se sensibilizando e se apercebendo do que se passa ao redor, dos pequenos "toques" que deus nos dá. E Lá se foram 11.690 dias, e contando. O tempo não pára e a vida é breve, como já cantou Cazuza. Como não sei se virão mais onze mil, ou mil, ou apenas mais um, vou refletindo sobre esses que já vieram. Peço desculpas e paciência aos poucos que me aturaram nesse tempo. E iluminação divina para melhor viver os dias que virão... "se é que eles virão".


1 de abril de 2012

UM SOPRO 2...

Menos de uma semana depois da perda de Chico Anysio, se foi também Millôr Fernades, tão genial quanto chico. Um intelectual, humorista e cartunista que fez tanto, que melhor do que dizer coisas a respeito sobre, melhor é deixar à mostra um pouco do muito que ele fez.



Uma pequena amostra:



“Os milionários gostam de fazer mistério sobre sua fortuna, acrescentando ao goso material do que possuem a superioridade intelectual sobre os que os frequentam. Mas é muito fácil ficar milionário. Basta para isso dormir e acordar só pensando em dinheiro. Não abrir mão de qualquer possibilidade de ganhar dinheiro, mesmo que o contrário lhe dê imenso prazer. Ser frio e racional na hora de dar ou emprestar ao seu melhor amigo, parente e até irmão, cobrando os juros e as taxas exatas, embora seu coração lhe diga que desta vez você devia ser generoso. Não ter qualquer escrúoulo, em qualquer ocasião. Pensar sempre no melhor partido que você pode tirar de uma situação desastrosa em que se encontram seus companheiros de negócio. Não temer o castigo de Deus, a opinião pública, a perseguição legal. Pensar que um lucro grande é melhor do que um pequeno mas que um lucro pequeno, repetido muitas vezes, pode vir a ser melhor do que um lucro grande. Se você, em suma, usar da subserviência exata no momento em que esta for necessária, a audácia e a grocessia precisa nos momentos em que a canalhice e a violência forem os melhores caminhos, se não tiver nenhum problema de consciência, nenhuma dúvia moral, nenhuma ambição de cultura, nenhuma preocupação quanto aos outros o acharem indecente, pérfido ou criminoso, o caminho da fortuna está facilmente aberto para você, como para qualquer um”.


"Nos momentos de crise ou perigo é fundamental manter a presença de espírito, embora o ideal fosse conseguir a ausência de corpo".


"Pode ser até que haja vida inteligente em outro planeta. Neste, até agora, não se viu a menor demonstração".


"O rico, que come mais do que o pobre, inventou a boa educação para que seus iguais não vivam arrotando à mesa".


"Toda revolução fracassa por se esquecer, afinal, de que o homem tem uma suprema ambição social e política: voltar pra casa".


25 de março de 2012

UM SOPRO...

Esse sopro, que tão inesperadamente surge, e tão certa e inevitávelmente se vai. A vida. E ainda que sabida, nos pega de surpresa; ainda que precisa, causa perplexidade e reflexão.
Sobre os bons que se vão antes.

Sobre a brevidade de tudo.

Sobre o que estamos fazendo com a vida que temos.

Sobre todos os que se foram e que poderiam ter ficado por um pouco mais de tempo.


E sobre os que já deveriam ter ido, mas que continuam por aí, causando estragos!!

Ainda nos surpreende esse sopro.
Esse sopro que é a vida...

18 de março de 2012

1 FILME E 1 DISCO



Sem dúvida, se tivesse que fazer uma lista dos melhores filmes que já vi, esse figuraria entre os dez melhores. O PROFETA, lançado em 2009, francês.Conta a história de um condenado a seis anos de prisão, Malik El Djebena, de descendência árabe, é semi-analfabeto, que, ao chegar à prisão, totalmente sozinho, ele parece mais jovem e mais frágil do que os outros presos. Ele está com 19 anos. O líder dos corsos, que tem o controle da prisão, ameaça Malik em troca de "proteção". Sem opção, Malik acaba coagido a colaborar com os corsos. Malik aprende muitas coisas na prisão, e aos poucos vai arquitetando planos para se libertar dos corsos.





BORN A LION, lançado em 2002, é o primeiro disco desse trio canadense que faz um hard rock da melhor qualidade. A banda já tem alguns anos, e discos, de carreira, e vale a pena conferir toda a discografia. Rock de primeira. Não é o 7 day diet, nem sou o ewmerson Fittipaldi, mas "eu recomendo".

E... "When you shake you're booty babe you get me so hot."

11 de março de 2012

O PRIMEIRO DIA




Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas!!!!!


E amanhã, ao acordar, será o primeiro dia de nossas vidas. Não se trata de esquecer, fazer de conta ou ignorar o que passou. Trata-se de admitir que os eventos passados são passados, não há, de fato, nada que se possa fazer para modificá-los. Tratemos da praticidade do que realmente é relevante: curar feridas, aparar arestas, apaziguar ânimos, desprender-se de sentimentos mesquinhos, daquilo que nos apequena e nos impede de ver além, de evoluir, de melhorar, e de amadurecer, e se não o fizermos, apodreceremos.



Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas!!!!


Com a vantagem de não ser o último, se Deus assim o quiser, e de não sermos os mesmos que cometeram os erros passados. Como dissera Nietzsche: "Não se entra duas vezes no mesmo rio"; o rio não será mais o mesmo, nem nós. Oremos a Deus, apelemos ao nosso superego, e convecemo-nos de que somos capazes de nos perdoar do mal que fizemos, dos erros que cometemos, do que deveríamos ter feito e não fizemos e estabelessamos como regra a retidão, a coerência e a sincera tentativa de acertar, de fazer o que for mais correto, justo e sincero.



Creio sim, que ainda somos crianças!!!


Ainda estamos aprendendo a viver!!!!



E não se esqueçam:


"Today is the first day of the rest of uor lives"


20 de novembro de 2011

A NOITE

Quando você sai à noite
Você sai de si
E quando você sai de si
Você cai na noite

Você não é mais você
Você é o escurecer
À escuridão você se entrega
À escuridão que te sega

A noite é o seu escuro
A noite é o seu muro
A noite é o seu escudo
A noite é o seu seguro

14 de agosto de 2011

O QUERER

Queremos sempre mais, ainda mais quando nada temos. Queremos saber o que realmente queremos. Queremos, sobretudo, o direito de poder querer, mesmo que esse querer seja apenas um quê de alguma coisa qualquer. Mas qualquer coisa é melhor do que coisa nenhuma.
Sim, queremos; queremos, não porque queremos querer, mas porque necessitamos querer, consciente ou inconscientemente, por instinto, ou indistintamente, queremos. Queremos e não negamos, pelo contrário, reafirmamos que não nos conformamos em apenas querer sem poder ter o que tanto desejamos.
Mas, sejamos francos, sabemos que nem sempre o que sempre queremos, ou sonhamos, nós não podemos, ou poderemos, ter; é claro que isso não nos impede de pedir permissão à nossa razão para, de coração, querê-lo. Então, libertemo-nos daquilo que possa, por ventura, nos vetar o direito de sonhar, de querer, de desejar, de sermos, ainda que ermos, nós mesmos.
Nós até podemos querer o que eles também querem ter, mas eles jamais terão o que nós já temos. Nós apenas desprezamos os que não se prezam, os que querem apenas ter, sem saber que é impossível ter alguma coisa sem antes ser alguém. E para ser alguém é preciso somar-se a muitos outros “alguéns”, para formar mais uma nova alma, mais calma, que caiba na palma da mão de uma outra alma.
Temos muita pressa em querer todas essas coisas e temos poucas chances ao nosso alcance, por isso esse querer é angustiante, pois a qualquer instante, pode suceder um lance que nos permita, na bendita hora, ter a glória de conquistar a vitória e mudar essa história, até agora, tão mal contada por aqueles que não sabem de nada.
Queremos. E não cansamos de repetir, pois resistir é o que podemos fazer, e mesmo não podendo, nós fazemos o que podemos para não sermos podados, riscados do mapa, como se faz quando alguém mata um outro alguém como se esse alguém não fosse ninguém. Nós resistiremos, pois queremos mais do que essa esperança que se afiança num futuro, por hora escuro, ou num passado que ficou pra trás, nos deixando esse presente que por agora jaz.
Não diremos o que querem ouvir, mas ouviremos o que não nos querem dizer. Se não nos entendem, não há com que se preocupar, mal haverá se não quiserem nos entender. O entendimento vem do querer, o respeito vem do direito de se ter no peito a intenção de não fazer nada de errado.
Pode demorar o tempo que for, não se preocupe, mas se ocupe, porque nós esperaremos, mas não sentados. Estaremos acelerando esse processo de progresso entre o que todos nós queremos e o que apenas uns poucos podem ter. Teremos o que sempre quisemos ter, teremos amor, teremos tempo, teremos temperança, teremos igualdade de direitos e de deveres, teremos consciência e compaixão, teremos o sal da terra e a panacéia para todos os males que nós mesmos criamos. Teremos tudo isso, quando isso tudo deixar de ser um simples querer.

15 de maio de 2011

É PORQUE ELE QUER. E POR QUE ELE QUER?



A coisa toda é bem simples, embora a gente goste de complicá-la sempre.
Tudo que acontece, ou deixa de acontecer, na vida, só acontece por vontade, ou consentimento de Deus. Simples assim.
Que me desculpem os céticos, agnósticos e ateus (também já fiz parte desse clube, por um período não muito curto de tempo e sei como é ser um total descrente de tudo, até da própria vida), mas a vida, para este que vos escreve, seria impraticável, e a vida talvez seja isso mesmo, uma prática diária, de segundo por segundo, sem a crença em algo maior que tudo e todos, algo divino, que nos norteie e seja a justa medida do bom e da própria justiça. Vivemos praticando a própria vida, tentando sempre acertar, dizer a coisa certa, fazer a coisa certa, encontrar a pessoa certa e torcer para que a pessoa que você ache certa também ache que você é a pessoa certa para ela. Quase sempre a gente erra, e mesmo que digam que de boas intenções o inferno está cheio, ainda assim sigo acreditando que o importante são as intenções sim. As boas e as más.
E porque Deus quer que as coisas sejam como são? Bem, ouvi certa vez um pastor evangélico, e não gosto de ouvi-los, diga-se de passagem, nem a eles nem a padres, ou qualquer tipo líder ou mentor religioso, de qualquer religião; mas este pastor disse algo que pareceu fazer o maior sentido, além de também parecer uma grande obviedade. Ele disse que, se soubéssemos porque Deus faz o que faz, ou deixa de fazer, ou permite que aconteça tudo que acontece, então nós seríamos Deus. Apenas Ele sabe o que faz, e porque faz o que faz.
Eu acreditava Nele, em deus. Deixei de crer, e voltei a crer depois que ele falou comigo. Ele falou comigo naquele dia, e em todos os outros desde então. Não é uma voz que escuto, pois não é por meio da fonética que ele fala comigo; se eu escutasse uma voz no meu ouvido, dizendo e sussurrando coisas, eu não teria dúvidas que estaria sofrendo de esquizofrenia.
Deus fala conosco nas pequenas coisas que nos acontecem no cotidiano; em acontecimentos aparentemente insignificantes ou que até, na maioria das vezes, passam despercebidas aos nossos olhos já condicionados a não vislumbrar mais o “novo”. É precisar treinar a percepção e, principalmente, a interpretação de tudo que nos sucede durante o dia, e tentar entender o que Deus quer nos dizer. Isso já não é tão simples assim, mas aí já são outros 499.

25 de dezembro de 2010

O QUE REALMENTE IMPORTA SABER

O importante é saber se a alma não se enlameou.
O importante é saber se a alma não se contaminou
com esse ódio imensurável e inconseqüente.
O importante é saber se a alma da gente ainda é da gente.

O importante é saber se a alma sobreviverá.
Saber se esse bruto espírito ainda olha para si próprio.
Saber se ela está pronta para o que ainda virá.
O importante é saber se alma deixará para si algum espólio.

O importante é saber se a alma ainda se emociona diante do belo.
O importante é saber se essa essência não é mais só o farelo
de algo que não pode mais se recompor ou ser substituído.
O importante é saber se a alma, à tudo isso, tem sobrevivido.

É importante ver dentro de si o que ninguém consegue ver por fora.
O que não é carne, nem nervo, nem osso, nem algum tipo de fluido.
Aquele que é o bem mais precioso e que à custo e aos poucos se aflora.
Aquele que é o único império que não podemos deixar ser destruído.

E à despeito do que os vermes possam achar óbvio,
a alma de cada pessoa não é apenas um divino óbolo.

12 de setembro de 2010

O CONFLITO E A DÚVIDA

O que é a vida? Para que ela serve? Qual o seu propósito? Dúvidas, incertezas e imprecisões são tudo o que temos como resposta. Seria a felicidade a resposta para essa pergunta? Vivemos para sermos felizes, ou para buscarmos a felicidade? A pergunta, portanto, deveria ser outra: O que é a felicidade? Muitas são as definições de felicidade. Felicidade é quando o ser humano se encontra num estado físico e mental totalmente tomado pelo prazer e pela satisfação plena. Mas por quanto tempo é possível alguém se manter neste estado? A felicidade é como a paixão: momentânea. A felicidade, e ser feliz, como as pessoas idealizam, é natural e logicamente impossível e inacreditável. Existem sim momentos felizes. Se fosse necessário definir o ser humano em uma única palavra, certamente essa palavra seria CONFLITO. A dúvida é o conflito entre a verdade imprecisa e a mentira sedutora. Ser feliz, ser amado, ser bem sucedido, ser reconhecido. Qual o real significado desses conceitos subjetivos? Logo nos deparamos com nossa segunda e natural essência: a DÚVIDA. O conflito e a dúvida são o fermento do espírito. O pensamento humano é movido pelos conflitos gerados por todas as nossas dúvidas. Portanto, aí vai um esboço de resposta às intermitentes perguntas:

– Para que ela serve? Qual seu propósito?

– A vida serve para ser vivida. Acordamos, dormimos, comemos, bebemos, amamos, odiamos, choramos, sorrimos, duvidamos e nos certificamos de que nada sabemos sobre nós mesmos. Vivemos para incessantemente buscar essa tal de felicidade, que nem sabemos se ela realmente existe.

– O que é a vida?

– A vida é um complexo universo de conflitos e dúvidas que nos move adiante, que nos faz buscar no amor, em deus, na ciência, nos outros e em nós mesmos, algum alento e força. A vida é justamente uma pergunta sem resposta; e quer melhor exemplo de dúvida e conflito do que uma pergunta que nunca conseguimos responder com precisão e lógica?

11 de agosto de 2010

AOS APRESSADOS

Aos apressados, que correm, se atropelam

que fazem de tudo para chegar à tempo

Aos apressados, que por serem apressados

chegam sempre atrasados

Aos apressados que se acotovelam e se ofendem

nos vagões de trem, no interior dos ônibus,

nas filas de banco, nas ruas e avenidas

Aos apressados que vêem a vida passar apressadamente

que brigam e se matam por migalhas

que estão sempre cansados (meus deus, que cansaço é esse?!)

Aos apressados mal educados, mal amados

maus seres humanos; apressados cretinos!!

Aos apressados que se alimentam mal

que nunca têm um tempo para si mesmos

que estão sempre a duzentos por hora, sem tempo à perder

Aos apressados, bastardos; medíocres!!

nunca chegarão na hora, nunca descansarão, nem quando morrerem

Apressados mentirosos, enganadores

que prometem o que sabem que não podem cumprir

que nunca têm nada a oferecer, mas sempre pedem algo

Aos apressados que não lerão esses versos

eles não têm tempo nem memória, nunca lembram das coisas

Aos apressados, vos digo: bon voyage!

1 de agosto de 2010

FAZER 30 ANOS

De Affonso Romano de Sant’Anna

Quatro pessoas, num mesmo dia, me dizem que vão fazer 30 anos. E me anunciam isto com uma certa gravidade. Nenhuma está dizendo: vou tomar um sorvete na esquina, ou: vou ali comprar um jornal. Na verdade estão proclamando: vou fazer 30 anos e, por favor, prestem atenção, quero cumplicidade, porque estou no limiar de alguma coisa grave.

Antes dos 30 as coisas são diferentes. Claro que há algumas datas significativas, mas fazer 7, 14, 18 ou 21 é ir numa escalada montanha acima, enquanto fazer 30 anos é chegar no primeiro grande patamar de onde se pode mais agudamente descortinar.

Fazer 40, 50 ou 60 é um outro ritual, uma outra crônica, e um dia eu chego lá. Mas fazer 30 anos é mais que um rito de passagem, é um rito de iniciação, um ato realmente inaugural. Talvez haja quem faça 30 anos aos 25, outros aos 45, e alguns, nunca. Sei que tem gente que não fará jamais 30 anos. Não há como obrigá-los. Não sabem o que perdem os que não querem celebrar os 30 anos. Fazer 30 anos é coisa fina, é começar a provar do néctar dos deuses e descobrir que sabor tem a eternidade. O paladar, o tato, o olfato, a visão e todos os sentidos estão começando a tirar prazeres indizíveis das coisas. Fazer 30 anos, bem poderia dizer Clarice Lispector, é cair em área sagrada.

Até os 30, me dizia um amigo, a gente vai emitindo promissórias. A partir daí é hora de começar a pagar. Mas também se poderia dizer: até essa idade fez-se o aprendizado básico. Cumpriu-se o longo ciclo escolar, que parecia interminável, já se foi do primário ao doutorado. A profissão já deve ter sido escolhida. Já se teve a primeira mesa de trabalho, escritório ou negócio. Já se casou a primeira vez, já se teve o primeiro filho. A vida já se inaugurou em fraldas, fotos, festas, viagens, todo tipo de viagens, até das drogas já retornou quem tinha que retornar.

Quando alguém faz 30 anos, não creiam que seja uma coisa fácil. Não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular da casa dos 29 para a dos 30 saltitantemente. Fazer 30 anos é cair numa epifania. Fazer 30 anos é como ir à Europa pela primeira vez. Fazer 30 anos é como o mineiro vê pela primeira vez o mar.

Um dia eu fiz 30 anos. Estava ali no estrangeiro, estranho em toda a estranheza do ser, à beira-mar, na Califórnia. Era um homem e seus trinta anos. Mais que isto: um homem e seus trinta amos. Um homem e seus trinta corpos, como os anéis de um tronco, cheio de eus e nós, arborizado, arborizando, ao sol e a sós.

Na verdade, fazer 30 anos não é para qualquer um. Fazer 30 anos é, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente.

Mas fazer 30 anos é como sair do espaço e penetrar no tempo. E penetrar no tempo é mister de grande responsabilidade. É descobrir outra dimensão além dos dedos da mão. É como se algo mais denso se tivesse criado sob a couraça da casca. Algo, no entanto, mais tênue que uma membrana. Algo como um centro, às vezes móvel, é verdade, mas um centro de dor colorido. Algo mais que uma nebulosa, algo assim pulsante que se entreabrisse em sementes.

Aos 30 já se aprendeu os limites da ilha, já se sabe de onde sopram os tufões e, como o náufrago que se salva, é hora de se autocartografar. Já se sabe que um tempo em nós destila, que no tempo nos deslocamos, que no tempo a gente se dilui e se dilema. Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços. É como a ave que canta, não para se denunciar, senão para amanhecer.

Fazer 30 anos é passar da reta à curva. Fazer 30 anos é passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é passar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.

Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar

21 de julho de 2010

SERES INVISÍVEIS (Conto)

O calçadão tinha o calçamento irregular; algumas grades do bueiro, que ficava no meio da rua para facilitar o escoamento das águas da chuva, estavam quebradas, o que forçava os transeuntes a desviar o seu caminho. Parado debaixo do sol um homem de camisa social branca, de manga cumprida, gravata preta mal arrumada num colarinho que apertava-lhe o pescoço gordo, de calça marrom e sapato preto surrado, segurava numa da mãos uma bíblia aberta mais gasta que sua roupa; exaltado, gritava algumas vezes e suava em bicas; o dedo em riste, vez por outra a mão espalmada no ar em tom de advertência; os olhos esbugalhados. Ele estava tomado pelo que dizia. Pregava o evangelho para quem não queria ouvir, alguns passavam e riam, outros torciam a cara. O homem falava com ardor sobre o juízo final, citava o Apocalipse, sempre o Apocalipse, nunca um desses fanáticos citava o Gênesis ou o Levítico. Declamava o salmo 91 (Meu refúgio, minha fortaleza, meu deus, em quem confio), o 23 (O senhor é meu pastor e nada me faltará); e mesmo sendo ignorado, o homem continuava a profetizar a palavra de deus. Nada abalava sua fé, nada. Ali era fé demais.

O julgamento final está próximo, dizia o homem, ainda há tempo, aceite a Jesus; Deus não escolhe os preparados, ele prepara os escolhidos. Monologava aos ventos poluídos enquanto os ouvidos que passavam não lhe davam atenção. Ih, tio, não perde seu tempo não, o fim do mundo já passou e ninguém se salvou, já tamo no inferno, sem segunda chamada, gritou um office-boy que passava pela rua.

Nas esquinas, todo tipo de deformação; gente sem perna, braço, olho, dedos; pés e braços atrofiados, mulheres sujas com crianças no colo, todos pedindo esmola, usando o mesmo discurso auto-comiserativo, usando deus, ganhando um trocado, sobrevivendo cada qual a seu modo. Eu não dou esmolas; não tenho pena de ninguém.

Tinha de tudo, até um cara que fedia a carne podre e que vivia perambulando pelas ruas distribuindo copias borradas de manchetes de jornal da década de setenta que falavam sobre Bezerra da Silva e ia repetindo freneticamente, em meio tom de voz “Bezerra, malandro é Bezerra, olha o Bezerrão aí, Bezerra é o cara”. E até um outro que chegou e foi logo dizendo “Eu não vou mentir, dizer que vou tomar um café; eu tô pedindo cinquenta centavos mas é pra tomar é pinga mesmo”, era sincero, talvez por isso ninguém lhe dava o trocado que pedia.

1 de julho de 2010

20 ANOS

É um fenômeno irônico e interessante, e até compreensível, mas a cada vinte anos todos começam a descobrir e concluir como foram bons vinte anos atrás. E esse tipo de fenômeno vem reforçar a velha frase/teoria/conceito que diz, aos suspiros: "eu era feliz e não sabai!"



Foi assim na década de 80, toda influenciada pelos anos 60; todos os artistas que surgiam, e os que permaneceram, eram fruto daquela década.



Nos anos 90, predominou a sombra dos anos 70, e o grunge é a maior prova disso, até na moda, voltaram a aparecer as calças boca de sino e os cabelos cumpridos.


Na última década vivemos uma nostalgia meio até boba dos anos 80, chegando ao ponto de se organizarem festas chamadas de "trash" 80, como se fosse algo muito natural e saudável se regozijar com aquilo que é chamado de "lixo" de uma década.



E nos próximos anos, algumas mentes brilhantes vão descobrir como os anos noventa foram tão geniais, criativos e ricos em todos os sentidos, e vão esquecer que quase todos que viveram nesses anos, os consideraram os piores de todos.


A enxurrada de refilmagens de sucessos não tão antigos assim é o primeiro dos sinais; e quem viver, verá.



26 de junho de 2010

AMOR NÃO SE PEDE


Amor é algo que não se pede

a gente pede um favor
a gente pede uma chance
a gente pede perdão
a gente mais
a gente pede bis

Mas amor, não; amor é algo que não se pede

a gente pede arrego
a gente pede pra sair
a gente pede pra voltar
a gente pede licença
a gente pede silêncio
a gente pede a palavra
mas o amor não se oferece a quem o pede

a gente pede desculpa
a gente pede pelo amor de deus
a gente pede trégua
a gente pede um minuto
a gente pede um tempo
a gente pede pra ver de novo

mas o amor só se dá pra quem ele quer

a gente pede compreensão
a gente pede atenção
a gente pede demissão
a gente pede revisão
a gente pede prazer e satisfação
a gente pede pra não ouvir um não

mas o amor não se pede

a gente pede um prato de comida
a gente pede um teto como abrigo
a gente pede algum sentido pra vida
a gente pede um ombro amigo
e nas noite de frio, a gente pede um pouco de calor

mas amor, não, não adianta; amor não é algo que se pede