28 de fevereiro de 2007

AS INSTITUIÇÕES BRAZILEIRAS


Observando o comportamento, e o movimento, das instituições desse país, é possível se constatar que:

1. O governo, não importa se de direita, centro ou esquerda, sempre se mantém à direita do povo e à esquerda da imprensa.

2. A imprensa, mais especificamente o jornalismo, sempre se mantém à esquerda do governo e à direita do povo.

3. O povo é mantido sempre à esquerda do governo e da imprensa, e por causa disso acaba se mantendo à direita de si mesmo.

4. E algumas pessoa do povo são marginalizadas a tal ponto de não conseguirem nem mesmo serem aceitas pela esquerda, tornam-se renegados e tomam o caminho do crime para tentar usufruir daquilo que só quem está na extrema direita usufrui.

E aquém a todas essas variações geopolíticas, sociais, históricas e econômicas da composição institucional brasileira estão as multinacionais, mantendo sempre os mesmos níveis de lucro, exploração e manipulação do país e da situação em que ele se encontra. São as únicas instituições realmente sólidas, que planejam, projetam, fazem estimativas e executam sua ações mercadológicas, marqueteiras, caras e ilusórias. Vendem de tudo, sobretudo idéias volúveis, fugazes e medíocres. Vendem o que você deve ser, ter e querer. E, por mais absurdo que possa parecer, a maioria das pessoas acaba comprando essas idéias e os bens materiais que elas representam.
Diante desse quadro, sempre parece haver a necessidade de escolha. Chega a ser uma imposição. É preciso escolher um lado, uma idéia, um partido, um conceito, uma cor, uma causa e sua provável conseqüência, uma religião, um rótulo, uma tribo, uma turma, uma gangue, uma verdade (mentira), um projeto de vida.
Será que não se pode escolher não escolher?
Será que a democracia se resume a essas obrigações?
Será que a liberdade ocidental só pode ser desfrutada sob essas grades?
Eu não quero escolher nada, nem ninguém. Não quero ser obrigado, por nenhum motivo, a fazer parte de nada, de nenhum movimento ou estagnação. Acho que a espontaneidade é que deve dirigir as nossas ações; devemos fazer o que nos sentimos obrigados a fazer, não o que os outros nos querem obrigar, por quaisquer motivos.

24 de fevereiro de 2007

BALA PERDIDA

A bala, que se perdera do epicentro
da briga entre João e Pedro Bento
por causa de Maria, moça bonita,
foi se encontrar bem lá dentro
das entranhas de um homem
cujo biografia era desconhecida.
A bala perdida encontrou um abdome,
João e Pedro Bento perderam Maria,
Maria acabou sozinha e sem ninguém;
E o homem baleado perdeu o trem e a vida

20 de fevereiro de 2007

A VITÓRIA DE VICTOR


Foi finalmente aprovada na França a extinção da pena de morte. E ao mesmo tempo foi prestada uma homenagem a Victor Hugo, um dos maiores defensores da vida e da extinção da pena de morte. O autor de Os Miseráveis, enfim venceu; demorou, mas sua verdade prevaleceu. E o seu esforço foi grande, a ponto dele escrever um livro só para defender sua idéia; o livro chama-se O Último Dia de Um Condenado, onde o escritor narra as últimas seis semanas de vida de um condenado à morte, desde a sua saída do tribunal onde foi condenado até o cadafalso. Na época (estamos falando de 1829) a obra causou polêmica, mas hoje, 178 anos depois, ele provou estar certo. Mesmo sendo muitas vezes acusado de ingênuo por sua vontade de ‘reparar’ as injustiças sociais do seu tempo. Indiscutível era sua talentosa capacidade de traduzir as fragilidades, vicissitudes e riquezas da condição humana.
Transcrevo abaixo um trecho do prefácio da edição de 1832:

…………………………………………………………………………………….
[Os que julgam e condenam dizem que a pena de morte é necessária. Primeiro porque é importante subtrair da comunidade social um membro que já a lesou e poderia lesá-la novamente. Se se tratasse apenas disso, a prisão perpétua bastaria. Para que a morte? Objetarão que se pode escapar de uma prisão. Façam melhor a sentinela. Se não acreditam na solidez das grades de ferros, como ousam ter zoológicos?
Nada de carrasco onde basta o carcereiro.
Mas, retorquirão, é preciso que a sociedade se vingue, que a sociedade puna. Nem uma coisa nem outra. Se vingar é próprio do indivíduo, punir é de Deus.
A sociedade está entre os dois, o castigo está acima dela, e a vingança, abaixo. Nada de tão grande ou de tão pequeno lhe convém. Ela não deve “punir para se vingar”; ela deve corrigir para melhorar. Transformem dessa maneira a fórmula dos criminalistas, nós a compreenderemos e a ela aderiremos.
Resta a terceira e última razão, a teoria do exemplo. É preciso dar o exemplo! É preciso assustar por meio do espetáculo do fim reservado aos criminosos, os que seriam tentados a imitá-los.
……………………………………………………………………………………..
Das duas uma:
Ou o homem que os senhores castigam não tem família, parentes, vínculo nesse mundo. E nesse caso não recebeu nem educação, nem instrução, nem cuidados para seu espírito ou para seu coração; e então com que direitos os senhores matam esse órfão miserável? Os senhores o punem pelo fator de ter em sua infância pelo solo sem estirpe e sem tutor? Os senhores lhe imputam por antecipação o isolamento em que o deixaram! De sua infelicidade os senhores fazem um crime! Ninguém o ensinou a saber o que estava fazendo. Esse homem ignora. A culpa está no seu destino, não nele. Os senhores castigam um inocente.
Ou esse homem tem uma família; e então acham que o golpe com o qual o degolam fere apenas a ele?, seu pai, sua mãe, seus filhos não sangrarão também? Não. Matando-o, os senhores decapitam toda a família. E aqui mais uma vez castigam inocentes.
Canhestra e cega penalidade que, não importando de que lado se vira, castiga um inocente!]


Seria bom se nós fizéssemos uma análise de consciência nacional. Se um país intelectualmente desenvolvido como a França levou mais de duzentos anos para extinguir a pena de morte, não significa que nós, ao cogitarmos institucionalizá-la, não estaríamos cometendo um terrível ato de involução que nos tomaria séculos de tempo e vidas preciosas para nosso progresso como nação?

Fica a pergunta
E a homenagem à vitória de Victor

16 de fevereiro de 2007

ESQUECIDOS

Os jornais noticiam fatos de um outro mundo
Os livros estão escritos em outro idioma
A luz não ilumina mais esse abismo profundo
A flâmula que se ostenta é a da vergonha

Tudo parece menos feio visto de longe
Toda canção soa distante aos ouvidos
Não é mais sabido onde a paz se esconde
Já são todos apenas rostos desconhecidos

Esquecidos, abandonados e indesejados
Um continente de miseráveis e heróis
Um contingente de guerreiros subjugados
Uma nação dividida, uma ferida que dói

Mas eis que se aproxima o tempo da mudança
Quando todos conhecerão, ainda que pela dor,
O poder, ou a conseqüência, da destemperança
De quem nunca reagiu, de quem sempre se calou

E quando esse novo tempo chegar, talvez será
Tarde demais para muitos dos que hoje exploram,
Julgam e condenam, porém, a sua hora chegará
E quando, de joelhos, pedirem clemência, não a terão

Não se trata apenas de vingança, não é esse o caso
A questão é outra, bem mais poderosa e legítima.
Pelo que se tem lutado, o que tanto tem sido rogado
Não é a esmola, a migalha, o resto, mas sim a justiça.

12 de fevereiro de 2007

O que resta

Entre partidas e chegadas, boas vindas e despedidas, encontros e separações, parecemos, depois de passar por tudo isso, mais resto do que sobra. Parecemos não somar mas subtrair, ao menos é a sensação que sinto. Pelo que passamos, deixamos algo de nós e não levamos nada, talvez um vazio formado por lembranças, sentimentos e experiências que, na maioria das vezes, nos endurece, deixam empedernidos os corações.
Talvez seja apenas uma sensação, uma mera impressão.
Talvez.

7 de fevereiro de 2007

Carnaval, carnaval...

Em Pernambuco, de sexta até segunda, as micaretas já começaram a circular pelo estado, e já morreram 48 pessoas, sendo que uma das mortes foi a de uma senhora idosa que foi morta dentro de sua própria casa, espancada até a morte.
É, já começou o carnaval.

2 de fevereiro de 2007

Eu Sou 300


"Eu Sou 300", novo álbum solo de Sérgio Britto, vocalista e tecladista dos Titãs, é muito bom, como eu esperava. Sou muito fã dos Titãs e de todos os trabalhos solos realizados por cada um deles. Nesse álbum, Sérgio continua marcando presença na música pop, com forte traço rock 'n roll e muitas pitadas de brasilidade, como ele disse que queria o disco. Como sempre uma das melhores coisas são as letras das músicas, letras essas que me me fizeram tornar fã incondicional dos Titãs e de cada um dos integrantes da banda. Belíssimas canções e mensagens. algumas músicas são poesia pura; para quem acha exagero, deixo a letra da música "Nós" a décima faixa do álbum, feita em parceria com Carlos Renó, e que teve como produtor o sensacional guitarrista Emerson Villani que também acompanha os Titãs nos shows e que também será o guitarrista da banda que Sérgio montou para as turnês do disco novo, o "Eu Sou 300".

NÓS

Nos miramos, nos admiramos
Nos sentimos, nos consentimos
Nos tentamos, nos contentamos
Nos captamos, nos capturamos

Nos rendemos, nos desprendemos
Nos colamos, nos descolamos
Nos levamos, nos revelamos
Nos abrimos, nos descobrimos

Nos deitamos, nos deleitamos
Nos gostamos, nos degustamos
Nos provamos, nos aprovamos
Nos comemos, nos comovemos

Nos amamos, nos amarramos
Nos lançamos, nos enlaçamos
Nos cedemos, nos excedemos
Nos prendemos, nos surpreendemos