14 de abril de 2016

A VIZINHA SAFADA




Moro numa rua sem saída, com muitas casas geminadas e outras mais antigas. A minha é uma dessas antigas, sem garagem, com a janela e a porta de entrada junto a calçada. É dessa janela que tenho presenciado um movimento estranho na casa da frente a minha.
A moradora é separada do marido e mora na casa sozinha, percebi que ela não tem um horário fixo nem de saída e nem de chegada, deve ser alguma empresária, não só pelos horários, mas também pelas vestimentas, muito chic, sempre na moda, cabelos arrumados, óculos escuros até quando está chovendo. Porém não é esse o problema, se é que podemos chamar de problema, são as visitas pontuais de um homem, alto, moreno, corpo atlético, camiseta colada no corpo, que chega sempre as segundas-feiras, no final da tarde, abre o portão com sua própria chave, fecha e entra na casa. Ela sempre chega alguns minutos antes e quando não, ele a aguarda na frente do portão até a sua chegada.
Numa dessas tardes eu disfarcei que estava procurando meu cachorro, nem tenho cachorro, e me aproximei do portão, fiquei assustada com os urros e gemidos altos que vinham da parte de cima, onde provavelmente ficaria o quarto, envergonhada voltei para casa e fiquei espionando até que ele saísse. Nunca ficava mais que uma hora, uma hora e meia, sai com os cabelos arrumados, um sorriso nos lábios e sempre fecha o portão mandando um beijo com as mãos, deve ser para ela que fica esperando no portão de cima. Uma hora depois é ela quem sai, shorts ou bermudas, camiseta larga e sandália, voltando lá pelas dez horas.
Outro fato que me deixa encafifada é o motoqueiro que às vezes chega na casa, não tem dia e nem horário fixo, parece mais velho que o das segundas-feiras, algumas vezes passa quase o dia todo, outras apenas meia-hora. Já me aproximei algumas vezes, quando o motoqueiro está e não ouvi nenhum gemido ou grito. Presumi que esse deveria ser o marido. O estranho é que ele não dormia lá.
Contudo é nas segundas-feiras que o “bicho” pega na casa, sei pelo fato de ter feito amizade com a vizinha do lado e por duas vezes ficamos sentadas na sala dela, que faz parede com o quarto, e realmente os sons são inconfundíveis de que duas pessoas estavam fazendo sexo animal, feroz, incontrolável, que duravam quase quarenta e cinco minutos e depois silêncio, algumas risadas e a batida no portão da frente.
Confesso que fiquei até umedecida com tanta imaginação e fantasias passando pela minha cabeça. A vizinha me disse que isso era normal nas segundas e nos outros dias, era som alto e novelas da Globo.
Eu precisava entrar naquela casa. Precisava conhecer a alcova daquela mulher. Precisava saber da história dela e se possível conhecer os fatos que faziam aquela mulher gemer e urrar tanto.
Fui sondando, alguns cumprimentos até que criei coragem e fui bater na casa dela, era um sábado depois do almoço, com a velha desculpa da xícara de açúcar. Ela foi muito gentil, era mais bonita de perto, devia estar lavando roupa, pois ouvi o barulho da máquina de lavar no fundo da casa, mesmo assim pude sentir o aroma do perfume que exalava do seu corpo suado. Ela pediu desculpas pela bagunça e me fez entrar. Uma cozinha perfeita, vistosa, enfeites combinando, cadeiras estofadas em volta de uma mesa com tampo de vidro. Ela me fez sentar e foi buscar o açúcar. De onde estava pude ver a sala, linda, aconchegante, tapete branco fofo, poltronas coloridas combinando com as cores das paredes. Ela voltou. Ficamos conversando. Ela era agradável, risonha, olhos lindos, dentes brancos, seios fartos e coxas grossas. De repente a campainha tocou. Era o motoqueiro. Ela me apresentou. – Meu ex-marido! Viajei de novo nas fantasias. Então aquele era o marido e o outro deveria ser o amante. Ela conversou alguma coisa com ele e voltou para a mesa enquanto ele deixava o capacete sobre a mesa e ia para o fundo do quintal. – Minha máquina está fazendo um barulho esquisito! Continuamos a conversar e a vontade de conhecer a alcova era irresistível, até que ela me convidou e aceitei com um sorriso amarelo de vergonha.
Era realmente uma linda alcova, quarto todo branco, cama larga, cabeceira vermelha, viajei de novo, agora com pensamentos impuros, como diria minha avó. Era uma suíte perfeita, até havia uma banheira, aliás era uma hidromassagem. Viajei de novo. Agradeci a atenção e o açúcar e voltei para casa estarrecida. Que vizinha safada, pensei. Pensei no ex-marido, aliás se ele era ex não tinha problema, talvez até soubesse. Aquilo me incomodou o resto do fim de semana, ainda vi o marido novamente no domingo, depois os filhos e netos, isso mesmo ela era avó.
Na segunda à tarde, esperei o amante chegar, depois que ele entrou, esperei alguns minutos e fui até o portão, toquei a campainha. Alguns minutos depois ela apareceu, envolta em um roupão rosa. Só podia estar nua por baixo do roupão. Pedi desculpas e entreguei a xícara com o açúcar. Ela então pediu que eu subisse e colocasse a xícara na cozinha pois suas mãos estavam oleosas devidos aos cremes que passara. Era a minha chance de presenciar a safadeza que ela praticava. Ao chegar na cozinha corri meus olhos pela sala e não vi o fulano. – Está com visita? Perguntei como se não soubesse. Ela demorou um pouco para responder. – Sim! O meu terapeuta. Terapeuta questionei logo em seguida. – Tenho problemas na coluna. Explicou sem me convencer. – Venha conhecê-lo. Fui. Apressada. Ansiosa. Curiosa. Até a alcova branca.
Depois daquele dia fico esperando toda segunda-feira o carro do terapeuta estacionar no portão da vizinha e ele acenar para mim. Ansiosa para a terça-feira chegar logo e poder receber as massagens do terapeuta na minha coluna.

1 de abril de 2016

PRIMEIRO DE ABRIL- DIA NACIONAL DOS POLÍTICOS -by Kiko Zampieri




O dia primeiro de abril, no qual, podemos mentir descaradamente e ainda acharem graça e algumas vezes até sermos cumprimentados pela criatividade, foi institucionalizado como o Dia da Mentira, porém no Brasil, deveríamos instituir esse dia como o Dia Nacional dos Políticos, claro que seria um feriado, para que houvesse comemorações para esse grupo de trabalhadores incansáveis.
Como símbolo desse Dia, teríamos Pedro Malasarte, que, para quem não sabe, de acordo com o site Britannica Escola, era malandro, sábio e sedutor, personagem famoso nos contos populares brasileiros, chegou ao país na bagagem de histórias trazidas pelos povos da península Ibérica (Portugal e Espanha). Malasarte vem do espanhol malas artes (literalmente “artes más”), que significa “travessuras” ou “malandragens”. Cheio de artimanhas consegue enganar todos os que cruzam o seu caminho, poderosos, avarentos, orgulhosos ou vaidosos. Afinal é um malandro tentando sobreviver.
E o que temos acompanhado pela mídia é um festival de Malasartes e Pinóquios tentando utilizar a mentira como forma de justificar roubos e arrombos, promessas e gritos de ordem são a mais popular maneira adquirida por esses funcionários “exemplares” para mascarar ou até mesmo reforçar a sua mentira.
Comprando a miséria de um classe oprimida e faminta para seus próprios benefícios, a qual, está aumentando a cada ano e pelo correr da carruagem financeira desse Brasil, em breve seremos 90 por cento miserável e os outros 10 por cento serão políticos.
Azaro nosso, só nosso, que nos deixamos levar por mentiras, ilusões, e ainda acreditamos no Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Big Brother, Novelas globais e que tudo isso passará depois do Carnaval do próximo ano.
Cansei de implorar para que acordássemos, estudássemos, lêssemos, que tivéssemos um olhar universal e não umbilical. Agora só me resta dizer, no dia da mentira, SOU FELIZ, SOU BRASILEIRO, COM MUITO ORGULHO. Ah! Vou deixar para vocês um dos contos do famoso Pedro Malasarte:

Órfão de pai, Malasarte viu morrer sua mãe, ficando muito triste. Mas, sendo ardiloso por natureza, do próprio cadáver quis aproveitar e ganhar mais dinheiro. Saiu com ele e escondeu-o nuns capins, perto de um pomar. O dono desse pomar era homem rico e violento, tendo comprado uma matilha de cachorros ferozes para a defesa das frutas. Ao anoitecer, Malasarte levou o corpo da velha e sacudiu-o por cima da cerca. Os cachorros acudiram imediatamente ladrando e mordendo. Nesse momento, Malasarte começou a gritar pelo dono do pomar, e quando este apareceu acusou-o de haver assassinado sua mãe, velhinha inofensiva que entrara no sítio para apanhar um graveto de lenha. Sabendo da ferocidade dos cachorros, Malasarte correra para impedir mas já chegara tarde. O dono do pomar, cheio de medo, pagou muito dinheiro e ainda encarregou-se de enterrar a velha com toda a decência.

Lembrou de alguém?