30 de março de 2008

UM DIA PERFEITO

Aquela pessoa por quem te apaixonaste perdidamente
Nada sentia por ti, nem mesmo indiferença
E a tua crença te guarda em silêncio
Mas por quê finges não ver que este é um dia perfeito?
Hoje tudo é como deveria ser
Até mesmo aquilo que tu achas ser uma derrota
Tua dor é humana, e é bela
Teu sofrimento é algo do que deves te orgulhar
Porque isto te faz singular

Tua vida é um fracasso
Mas hoje é um dia perfeito
E não adianta negar que não percebes essa beleza

Olha o firmamento
Admira esse sol
Curta essa madrugada
Sinta esse frio
Sinta prazer em sentir esse nada

Regozije-se em estar só
Tu nasceste só
E és o que és, uma criatura solitária
E não reclames daquilo que é uma bênção

Hoje é um dia perfeito
Estás sem ninguém
Ninguém te ama
Ninguém te quer
Ninguém se importa contigo
E esse dia lindo deve ser apreciado
Pois nesse dia perfeito
Tua tristeza não tem importância

24 de março de 2008

AS ESTAÇÕES

Existem as estações.
As estações externas e as estações internas.
A Primavera, o Verão, o Outono e o Inverno.
Cada um de nós tem dentro de si suas própias estações.
Agorinha mesmo estou saíndo de um inverno; um verno tenebroso, escuro, frio, solitário, que me fez muito mal espiritual, sentimental e fisicamente. Estive mal, foi inverno cruel, brabo mesmo. Acho que, se eu der sorte, agora vou conseguir um pouco de Outono. Não me iludo com a sonhada Primavera, tampouco com o Verão, que, sendo sincero, é a estação da qual menos gosto.
Lá fora, agora, também se iniciou o Outono.
E eu, aqui dentro, sinto cansaço, angústia e muito sono.
Mas acho que esses são sintomas da ressaca desse Inverno pelo qual passei
Só sei que, pelo que passei, não espero passar tão cedo
Que passe definitivamente essa estação
E que se regenere esse meu partido coração

21 de março de 2008

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO

Hoje é sexta-feira da Paixão, mas não existe mais sexta-feira da Paixão. Tudo parece não existir mais como antigamente; um antigamente cada vez mais distante, em preto e branco, com uma música triste e bucólica de fundo. Hoje tudo parece ser uma coisa só, uma coisa sem gosto, sem cheiro, sem cor, sem forma, sem graça nem sentido.

2 de março de 2008

Nós sabemos quem somos
Eles são desconhecidos
Nós somos os mesmos
Eles nunca são iguais
Nós queremos
Eles têm
Nós dividimos
Eles subtraem
Nós conquistamos
Eles se apossam
Eles roubam
Eles tomam
Nós reclamamos

Nós não sabemos, só achamos que sabemos
Eles não são desconhecidos, nós os conhecemos muito bem
Nós somos sempre os mesmos, não evoluímos
Eles nunca são iguais, estão cada vez piores
Nós queremos, mas não fazemos nada para ter
Eles têm e jamais dividirão conosco
Nós nos dividimos
Eles subitamente traem
Nós conquistamos fracassos
Ele se apossam de nossas idéias
Eles roubam nossas riquezas
Eles tomam o que querem
Nós reclamamos, só reclamamos