23 de abril de 2007


E que não ouse alguém duvidar
Do poder que tem quem não tem
Nada a perder
Alguém, por tudo querer, sem nada poder
Tudo pode por nada temer

Quem nada tem a perder
Tem tudo que precisa



17 de abril de 2007

O ESTABLISHMENT

Me revolta, me repugna, mas sobretudo, me assusta ouvir tantas opiniões e idéias fascistas sendo defendidas e divulgadas nas emissoras de rádios e televisão. Gente imbecil, preconceituosa, racista. Não consigo entender qual critério é adotado para esse tipo de gente estar em veículos tão importantes e de grande alcance. Quanta merda a gente escuta de gente escrota que se mete a entendedor de todas coisas, das quais, na verdade, não sabem absolutamente nada. É de se lamentar o espaço mal aproveitado, desperdiçado com discursos falso-moralistas, que escondem recalques e desvios de conduta. É uma gentinha ignorante, mal comida, que usa um discurso capenga de “defesa da família brasileira” da “moral e dos bons costumes”, e, é claro “das pessoas de bem da sociedade”. Uma bobajada só, de gente que só quer se promover, agradar e tornar ainda mais alienada aqueles que lhes dão ouvidos.
Enquanto isso, as pessoas que têm algo realmente interessante, útil e necessário para ser compartilhado com o resto do mundo não têm o mínimo espaço para expor suas idéias. Pessoas incríveis, com idéias e opiniões igualmente incríveis, que poderiam de fato colaborar para amenizar, ou ao menos ajudar a solucionar os problemas, que não são poucos, desse nosso país continente. Mas para essas pessoas não é dado espaço algum, exceto quando se quer justamente deturpar alguma opinião ou atitude por elas tomada.
Esses que aí estão falando sem dizer nada, são, na maior parte, maniqueístas, que burramente teimam em dividir a tudo e a todos entre bem e mal, levando-se, é claro, o cuidado de se colocarem sempre no lado dos bem, dos arautos da cidadania, dos cumpridores da lei e fiéis mantenedores da ordem e da verdade que mais lhes convém.
Já passou da hora dessas pessoas deixarem de ocupar o espaço tão precioso e útil para quem tem realmente algo substancioso para dividir com a coletividade. Que saíam esses fascistas, que finalmente possamos dar atenção a quem a mereça.

13 de abril de 2007

Os Incompreendidos



Os Incompreendidos, filme de François Truffaut, conta a história de um garoto que se sente incompreendido pelos pais e pela escola e acaba se isolando nos livros e cometendo pequenos delitos. Truffaut pensava em fazer apenas um curta-metragem, mas conseguiu mais recursos e acabou se aprofundando na idéia de mostrar o mundo dos adolescentes da França no final da década de 50. “A adolescência é uma fase reconhecida pelos educadores e sociólogos, mas negada pela família, pelos pais (…) O mundo é injusto, então é preciso se virar: faz-se o que se deseja, mesmo que isso seja proibido” afirmou o diretor, que realizou praticamente um filme autobiográfico. Esse filme, junto do “Acossado” de Godard, deu início a Nouvelle-vague francesa. Os Incompreendidos recebeu a Palma de Ouro de Melhor Diretor em Cannes, Melhor Filme Estrangeiro para a Associação de Críticos de Nova Iorque e indicado ao Oscar de Roteiro Original. Vale a penar conferir.

Título original: Les Quatre Cents Coups
Direção: François Truffaut
Elenco: Jean Pierre Léud, Claire Maurier, Albert Rémy, Guy Decomble, Georges Flamant, Patrick Auffay
Ano de lançamento: 1959, P/B
Lançado em DVD pela Continental, http://www.dvdcontinental.com.br/

9 de abril de 2007

A Fragrância do Coração

Sentou-se ao meu lado no ônibus; era tão cheirosa. Tão cheirosa que me chamou a atenção; não usava o mesmo perfume que a maioria das outras mulheres usava; era uma fragrância leve e ao mesmo tempo densa e marcante. Para personificar aquele agradável odor a figura da menina era lindíssima; era baixa, talvez não mais de um metro e sessenta de altura (para mim a altura é indiferente), branca (para mim a cor da pele é indiferente), e usava óculos (admito que os óculos são a minha queda) e se valia de toda a feminilidade possível para executar qualquer movimento que fosse. Logo fiz a primeira coisa que sempre faço quando encontro uma mulher que chama a minha atenção, olhei para os dedos anelares das duas mãos e percebi que ela não usava aliança em nenhum deles; isso aumentou meu interesse. Usava uma jaqueta jeans azul por sobre uma vestido curto de algodão que lhe caia a saia bem no meio das belas coxas alvas e bem torneadas. Essa visão, ainda que de esguelha, para não me denunciar, me excitou, mas era uma excitação diferente, quase não sexual; porém, é impossível negar que entre minhas pernas não intumesceu o órgão, que até então se mantinha incólume. Mas era um o desejo sexual mais delicado, sensivelmente táctil, se é que isso era possível; minha ânsia não era penetrar-lhe e vê-la gemer de prazer e dor. Não. Me movia a vontade de apenas e tão somente abraçá-la, acariciar-lhe os cabelos pretos, longos e lisos, beijar o vão côncavo de sua clavícula, apertar seus pequenos seios rijos contra meu peito, e nada mais precisava para eu ir ao auge de minha libido. Repito que o perfume dela era o que mais me excitava, um odor que me seduzia, me fascinava. Ela, vez por outra, me olhava, atraída pela curiosidade de saber por quê que eu tanto a olhava. Seus pés em sandálias completavam seu aspecto simples, meio prosaico, porém elegante e sensual. Três pontos antes do meu, ela apertou a campainha, o ônibus parou, ela desceu e nem sequer voltou seu olhar para dentro do ônibus, na minha direção. E eu, que antes de pegar aquele ônibus era apenas cansaço, depois que aquela menina se foi, acrescentei à fadiga muscular e à faina de espírito um certo descontentamento e desilusão de não ser o dono daquele coração tão perfumado.

7 de abril de 2007

Andava tão distraído
que um dia tropeçou na própria sombra
e caiu em si
Se viu invisível e riu

Nesse dia
soube que tudo estava perdido
e foi então que se encontrou
Não fosse andar distraído
estaria até agora perdido

5 de abril de 2007

27

No quinto dia do quarto mês do ano da graça de MCMLXXX, nasceu mais um menino torto, que mais se entortou procurando se endireitar, mas até o presente momento, não conseguiu lograr êxito. Há muito o que se dizer, mas quase sempre ele prefere calar. Nem faz tanto tempo assim, mas para ele é como se fosse uma eternidade. Quanto tempo jogado fora, quanta coisa lá fora e ele sempre enfurnado dentro de si mesmo. Pode ainda faltar muito, ou daqui a uma fração de segundo tudo pode se acabar, para ele, agora, isso parece já não importar tanto assim. Às vezes, a paciência não é uma qualidade, mas a única opção. Agora ele espera, enquanto vai tentado ainda tentar, tentando acreditar no inacreditável, imaginar o inimaginável e suportar o peso de suas próprias frustrações.

3 de abril de 2007

Hoje

Insistir num erro é errar de novo
O que foi feito, o que foi dito
Tudo que foi vivido
Não pode ser refeito ou esquecido

Insistir num erro é perpetuá-lo
O que ninguém fez e o que se desfez
pertencem ao passado

Tudo está guardado na memória
Todas as histórias da sua história
Todas as histórias da sua vida
Todas as vidas vividas agora

Hoje será passado amanhã
Somos hoje o que amanhã teremos
Hoje vivemos o hoje. Hoje erramos