31 de julho de 2006

"De dois efes se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder"
mote de um poema sobre a Bahia, de Gregório de Matos


"A situação tá difícil, é a lei da selva" diz alguém. Sinceramente falando, não sei qual é a lei da selva, nem sabia que existia lei nela. E pelo pouco que sei, na selva nenhum animal mata outro por dinheiro, ou por inveja, ou por vingança ou por prazer; na selva não há traição entre iguais, não há entriga, fofoca, insinuações maliciosas nem maníacos depressivos; na selva não há bolsa de valores, câmbio flutuante, OMC nem FMI. Na selva não há desavenças religiosas, políticas, econômicas e culturais; na selva não há guerras, exércitos armados, armamento nuclear ou invasões ilegítimas, na selva não existem regimes totalitátios, prisões nem torturadores. Pensando bem, não seria má idéia, diante das circunstâncias, ir viver na selva.

26 de julho de 2006

20 ANOS DO CABEÇA



Em Abril de 1986 foi lançado no Brasil aquele que reputo como o maior disco de rock do país. É porrada do início ao fim; apontando o dedo nas feridas mais profundas da sociedade brasileira. O disco abre com a música que dá título ao LP, Cabeça Dinossauro, no qual os Titãs fazem uma adaptação do "Cerimonial para afugentar os maus espíritos" dos índios do Xingu. Depois segue AA UU, que me fazia, e ainda me faz, lembrar dos tempos em eu trabalhava dez horas por dia numa metalúrgica, entre maquinários e seus sons intermitentes e ensurdecedores, graxas, querosene, estopa, molas, uniforme azul-escuro, botas de borracha e um crachá com uma foto onde parecia que eu tinha acabado de perder minha alma. A terceira faixa é Igreja, onde Nando Reis teve a coragem de cantar os versos "Eu não gosto de Bispo/Eu não gosto de Cristo/Eu não digo amém." dizem que, quando essa música era tocada pelo grupo, Arnaldo Antunes, que fora contra a gravação dessa música, saía do palco, voltando depois para continuar o show. A quarta música (talvez a melhor de todas?) é a clássica Polícia, obrigatória em todos os shows. Seguem-se Estado Violência, A Face do Destruidor e Porrada, que é simplesmente sensacional. Depois vem Tô Cansado e Bichos Escrotos, que teve, na época, sua radiodifusão e execução pública proibidas pelo "Departamento de Censura e Diversões Públicas da S.R. do D.P.F." quem tiver a curiosidade pode ver no encarte do LP ou do CD remasterizado. Família é a música, digamos assim, mais light do disco, depois vem Homem Primata, um hino, que Sergio Britto já confessou que não tem mais saco para cantá-la hoje em dia. Dívidas é a penúltima, e menos conhecida, faixa do album. A música que fecha o disco é O Que, a melhor expressão da influência da poesia concreta na música de Arnaldo Antunes. O LP foi produzido pelo excepcional produtor musical Liminha, que teve fundamental importância na concepção e arregimentação do disco. Para os fãs, como eu, é tempo de comemoração e expectativa para o lançamento do material comemorativo prometido pela banda que revolucionou o rock tupiniquim. Viva os Titãs!

22 de julho de 2006

"... Os solitários lêem muito, mas falam e ouvem pouco, a vida é um mistério para eles: são místicos e enxergam, muitas vezes, o diabo onde ele não está..."
fala do personagem Ielisavieta, do conto "Um caso clínico" de A. P. Tchekhov

Há dias em que creio ser possível uma mudança, uma revolução no modo como vemos nosso país, nosso mundo, e que podemos consertá-lo, ainda que isso demore anos, décadas, séculos.
Mas na maior parte do tempo, como agora, acho que nada mais tem conserto, que o mundo é uma enorme cloaca, um desmantelo. É um exagero, admito, mas é um sentimento, muitas vezes, inevitável. Mas a pior coisa é essa oscilação; invejo profundamente essas pessoas abnegadas que se entregam de corpo e alma a alguma causa nobre. Acordar achando que tudo é uma merda, que eu sou um merda, é o estado de espírito que mais me toma. Tenho que fazer força para me convencer de que não é bem assim, de que ainda existem pessoas de almas superiores, especiais, e que por elas ainda vale a pena acreditar que as coisas podem melhorar.
Mas hoje, e por enquato, a tristeza e o pessimismo tomaram conta de todo meu ser.

17 de julho de 2006

O MEDO MAIOR

Um sistema carcerário falido, desumano, que gera rebeliões comandadas por uma facção criminosa que faz pelo preso o que o estado deveria fazer e não faz, ataques a policiais, a delegacias, ao corpo de bombeiros; ônibus e caminhões de lixo incendiados, e agora agentes penitenciários como alvos; ações paliativas da polícia, matando suspeitos, muitos deles sem antecedentes criminais e alguns com sinais claros de execução, população aturdida, sem saber o que fazer, sem saber em quem confiar. A mídia, de uma forma geral, como sempre, abordando o assunto com extrema falta de cuidado, conhecimento de causa e foco nas questões realmente relevantes. E o governo, inerte como sempre, apelando para medidas paleativas inúteis, que no decorrer do tempo acabam por agravar ainda mais a situação que já é gravíssima.
De tudo isso, o que me dá um medo maior, é essa sensação de que nada será feito, que o caos será cada vez maior nas ruas, e essa atitude sempre incoerente do governo que poderá causar o maior dos males, o costume. Meu medo é que a gente acabe se acostumando com mais essa tragédia social, porque essa é uma conseqüência direta do discaso social do estado com a situação do povo desse país infinito.

A MÍDIA: quase sempre age de maneira pouco cautelosa, tratando os fatos de forma contigente. Eu quase não acreditei quando vi Erasmo Dias, um dos nomes mais atuantes e brutais da ditadura militar, dando uma entrevista sobre os fatos ocorridos. É sempre assim, chamam Afanázio Jazadi, Conte Lopes, Coronel Ubiratan, ex-governador Fleury Filho. E a pergunta é simples: do quê que essas pessoas entendem? ora, a resposta também e simples, repressão. Exigem mais policiamento, mais poder para a polícia, enfim, repressão, violência, olho por olho, dente por dente. Mas o que que mais se fez durante toda a história do Brasil senão reprimir com violência os mais fracos, os mais pobres, os índios, os negros, as mulheres, os velhos, as crianças, os doentes, os que sofrem com algum tipo de deficiência, os homossessuais e os não-católicos?
A polícia brasileira é a que mais mata no mundo, e o que adiantou? A população carcesária brasileira é uma das maiores do mundo, e o que adiantou? Se tudo isso não tivesse servido pra nada, seria até lucro, mas essa postura gerou frutos, sim. Uma revolta, agora, incontida, incontrolável, que não vai perdoar ninguém, nem maus nem bons, inocentes ou culpados. Todos nós teremos cadáveres para velar. Mas quem é inocente?

O GOVERNO: age com a mesma indolência que acabou causando toda essa situação calamitosa. Sugere medidas paliativas, inúteis, achando que pode apagar um incêncio com cuspe. Eles, os políticos, dão a prova cabal de que só pensam neles mesmos e pensam, pior pra eles, que essa violência toda nunca chegará até eles. Às vezes penso que só quando os políticos, os advogados, os jornalistas e os artistas forem alvos mais constantes dessa violência, alguma providência realmente concreta e eficiente será tomada, pois parece que no Brasil essas pessoas é que são gente de verdade, pra eles o povo é que nem lixo, que nem rato. Eles dizem no jornal "Morreram dez nesse fim de semana". Dez o quê? Dez pessoas, ou dez baratas, dez cachorros? Agora quando é alguma "celebridade" que morre, ganha destaque e recebe todo tipo de homenagem. As coisas não podem mais continuar assim, ou alguém pensa de outra maneira?

O POVO: a postura é a mesma, "a culpa é do governo, eu não tenho nada a ver com isso, eu não posso fazer nada, a obrigação é do governo, eles lá em Brasília é que têm que resolver" Francamente, a questão é muito clara: os governantes querem mais é que a gente se fôda. Ou fazemos algo por nós mesmos, ou então estaremos fudidos e mal pagos. Sem nenhuma chance de reverter esse quadro de miséria, ignorância, corrupção, violência, descaso social, insegurança, chacinas, juventude perdida, infância abandonada, idosos desreipeitados. Nós por nós contra eles e eles, sem ninguém, se acovardarão, cederão à pressão de um povo que cansou de ser espizinhado e tratado como se fosse uma tralha imprestável, um monte de merda.

E se amanhã ou depois, quando você ligar a tv e ver mais um desses ataques a ônibus, mais uma chacina, mais uma notícia de corrupção, mais uma rebelião e suspirar "de novo" como se essas fossem novidades antigas, requentadas, tome cuidado, pois será sinal de que o fim está bem próximo. E pelo que vejo, deus não está muito disposto a resolver os problemas que nós criamos para nós mesmos. E esse é o meu medo maior.

14 de julho de 2006

GÊNESE

A primeira postagem, a primeira mensagem
A primeiro passo de uma longa viagem
A primeira viagem de muitas paradas
O descanso merecido para pernas cansadas

Costuma-se dizer que o segundo filho é mais fácil de se criar do que o primeiro, que é meio que uma espécie de cobaia para os marinheiros de primeira viagem. Se isso for verdade esse blog, que é o meu segundo, será menos desastroso que o primeiro. O tempo, minhas postagens e seus comentários, se tiver algum, se encarregarão de provar se estou certo ou não.

Por enquanto é só, mas logo mais tem mais. Até lá.