29 de outubro de 2006

Vencedores e Perdedores


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A verdade é que pouco importa qual partido ganhará as eleições. Os perdedores já sabemos que somos nós. É impossível deixar de se constatar que ambos os partidos não têm uma real definição sobre os assuntos que realmente nos interessam. Discutem programas e ações paliativas, não idéias e análizes profundas sobre o cerne das questões essenciais para o presente e para o futuro do país. Trocaram acusações, ofensas, insinuações, indelicadezas e ironias durante os debates e no fim ainda trocam apertos de mãos e sorrisos para os cinegrafistas e fotógrafos. É tudo um teatro político; e nós é que acabamos nos enervando e nos indignando com tudo que vemos, ouvimos e ficamos sabendo. A prática política nos ensina a cada dia que as maiores ações devem ser tomadas por nós mesmos, já que os políticos parecem querer se perpetuar junto com os problemas que eles próprios criaram e que alimentam para deles continuarem tirando proveito. Estamos reféns de um nocivo círculo vicioso que apenas irá se desfazer quando tomarmos uma atitude mais ativa e menos contemplativa e remungona. Por enquanto a coisa vai seguindo desse jeito aí, feita nas coxas.

24 de outubro de 2006

!!A HORA CERTA!!

Tudo tem sua hora, todos têm sua hora. Por mais que eu saiba disso, é difícil suportar essa angústia de querer tudo aquilo que me acho merecedor, mas saber que tenho que esperar. Ainda não é minha hora, meu momento; creio que ele chegará (será?), acredito que tudo isso não tem sido em vão. Minha vida não pode se resumir a isso, e se um dia eu chegar à conclusão de que nada valeu a pena, de que tudo não serviu pra nada, aí realmente estarei definitivamente condenado a essa escuridão abissal. Mas por enquanto, tenho que aceitar esse fato e ter a consciência que esse momento ainda não é o meu; tenho que suportar o fato de ver tanta gente genial fazendo tanta coisa relevante e interessante enquanto eu sou mero espectador. Contudo, como diz a música de Jorge Ben Jor "a espera é difícil", mas se não tem outro jeito, o jeito é esse mesmo, esperar e me preparar para quando minha hora chegar eu souber aproveitá-la. Se é que ela chegará, se é que eu não estou delirando mais uma vez.
É esperar pra ver, né?

19 de outubro de 2006

Fumo de Corda (conto)

Meu avô passava a manhã inteira pitando o fumo de corda que comprava aos rolos de metro na feira de domingo. Do meio-dia em diante quedava-se mascando e cuspindo nos cantos da calçada em frente da velha casa onde nasceu, se criou e onde eu sempre passava minhas férias escolares. vez por outra ele abria e fechava a boca, como se estivesse gesticulando ou querendo falar alguma coisa, mas era apenas para desempapar os cantos dos lábios que se impregnavam com a viscosa baba formada de saliva e fumo. O cheiro era forte e fedido, mas nem ele nem eu nos importávamos com esse detalhe escatológico. Às vezes, eu ficava encarando a pastosa mistura cuspida nas calçadas. A baba marrom e espumante ficava impregnada na calçada, marcando uma mancha escura no acinzentado piso de cimento; não raras eram as vezes em que o escarro se mexia, era a marca da pontaria do meu avô que acertava as moscas desavisadas que sobrevoavam por ali em volta e que morriam afogadas na baba de fumo de corda. Sem dúvida aquela devia ser uma forma horrível de se morrer. Ele ria e continuava mascando, cuspindo e tossindo seco quase toda tarde e início da noite. Antes de dormir ele também mascava o seu fumo de corda. Até hoje sou agradecido ao meu avô, porque, ao ver uma cena tão asqueirosa e nojenta como aquela, eu prometi a mim mesmo que jamais poria um cigarro ou um chumaço, por menor que fosse, de fumo de corda na boca. Valeu vovô babão!

9 de outubro de 2006

INDIGNAÇÃO

Um de nós, entre tantos na multidão,
explode, tomado de revolta e exaltação,
e sem medir palavras, grita a plenos pulmões:
“No congresso nacional só tem ladrões;
todos são bandidos, sem exceção!” e eu digo
“Meu caro amigo, pera lá, vamos com calma,
Deles todos, creio que um ou outro se salva”

Mas a revolta do companheiro mais alto falaria.
De bate-pronto ele retrucou, sem que depois
eu pudesse argumentar; disse ele: “Cá entre nós dois,
um ou outro, numa democracia, constitui parca minoria
e ela, quase não tem serventia, senão a de atrapalhar.
Pode até não roubar, é fato, mas nada faz para impedir o peculato.
De uma forma ou de outra há roubo, não há como negar,
tanto dos que prevaricam quanto dos que deixam prevaricar”.