10 de fevereiro de 2008

SINTO MUITO

Sinto muito ter desapontado você
Sinto muito. Sinto muito ter apontado você na rua
Eu sinto muito que a culpa seja toda sua

Sinto muito ter desamado você
Sinto muito. Sinto muito ter amado você nua
Eu sinto muito que ninguém tenha culpa

Sinto muito por você e por mim
Sinto muito por tudo ter chegado ao fim

Sinto muito pelo tempo perdido
Sinto muito por ter perdido a calma
Sinto muito por ter feito você chorar
Sinto muito por não ter feito nada

Sinto muito por não sentir mais nada

4 de fevereiro de 2008

METRÓPOLE

Cada animal com seu instinto
e cada verme com seu partido;
Das desgraças, das quais consinto,
a ignorância é a que mais tem me doído

Dos retângulos verticais
que paralelos e estáticos eternizam
a grandeza esmeralda dos capitais,
vejo o cinza vulgar dos que se imitam;

Cada zumbi vestindo sua pedante ilusão,
respirando todo o fedor sanitário,
comendo a mais podre reserva de grãos
e arrotando um forçado sorriso amarelado;

A cada animal cabe um destino
e nenhum verme, do asco, se isenta.
Com o perigo a desgraça tira um fino
e escapa da vida fingindo pena

mas alimentando a miséria alheia
como se o imundo mundo fosse justo;
Sua falsa fachada não se permeia,
só a dor se penetra a todo custo

derme adentro
até o centro
até a razão sucumbir;
E, quem sabe assim, a vida se acostume
à inconstância do que há por vir
pois a vida não tem sumo, só tem gume.

2 de fevereiro de 2008

É carnaval, o samba, o som. A mulata
É a bebida, o enredo, a subida, a descida da serra
A praia, o interior, o feriado
A conta vem depois. Tudo vem depois
Os mortos nas estradas, os assaltos, a porraloquice.
É carnaval
É a carne, a festa. É a aporrinhação
A porra dessa animação.
É tudo meio-mais-ou-menos. É o tamborim
É o fim do começo; é o preço que se paga por não se valer nada
É o carnaval
Enjoy
Faça como eu, hiberne.