21 de outubro de 2007

INSTANTE

Nesse exato instante
muita coisa está acontecendo.
Gente nascendo, gente morrendo.
Tudo nesse instante exato
ou nem tanto.

Nesse mesmo segundo
alguém está sendo torturado,
alguém está tendo um orgasmo.
Alguém está pedindo outro alguém
em casamento
enquanto alguém sofre
por não ter nenhum contentamento.

O sol nasce aqui
ao mesmo tempo que se põe
em outros lugares
para outros olhares;

A noite escura,
o sangue frio;
nessa fração de segundo
o mundo de alguém desmorona
e de outras ruínas
ressurgem sonhos
que ninguém mais sonha;

Últimos suspiros
Choro de recém-nascidos
Pedidos de socorro
Gemidos de prazer
Sons dissonantes
Concomitantes

Nesse exato instante
tudo que é importante
é ignorado
pois esses instantes
(inconstantes)
parecem menores
do que realmente são

6 de outubro de 2007

NO SUPERMERCADO (Conto)

No supermercado eu carregava a cestinha de compras me sentindo um perfeito idiota; ainda estava mal, mas era preciso comprar algo pra comer. Não podia mais ficar gastando dinheiro em lanches nas padarias e restaurantes self-service que enfiavam a faca nos clientes; se eu continuasse assim, não sobraria nada do pouco dinheiro que me restou. E não há nada pior do que homem solteiro fazendo compra em supermercado. Eu nunca sei direito o que comprar, aliás, sei, mas na hora acabo comprando um monte de besteiras. Fiz outra lista dessas bobagens que sempre compro:

1. Refrigerante.
2. Sardinha enlatada.
3. Pão de fôrma.
4. Macarrão instantâneo.
5. Goiabada.

Enquanto andava pelos corredores do supermercado e olhava os produtos nas prateleiras, eu observava o comportamento de algumas pessoas que também estavam ali fazendo compras – não há lugar melhor para se observar as pessoas do que o ambiente de um supermercado –. Casais mais velhos, com um comportamento ranzinza do marido com a esposa e vice-versa, nessas horas eu dava graças a deus por não ser casado, e ainda me perguntava se era pra isso que as pessoas se casavam; me lembrei dos meus pais, da forma como meu pai tratava minha mãe, com desprezo e superioridade, como se minha mãe fosse uma inútil qualquer. Eu viajava nas minhas divagações; andava despreocupado pelos estreitos corredores do supermercado, e isso levantava algumas suspeitas. Muitas vezes, eu passava por trás dos seguranças e, sem que eles percebessem, os via dando minha descrição pelo rádio; como eu estava vestido e o meu comportamento esquisito, e quando eles se viravam e me viam encarando-os, saíam andando sem muito constrangimento, talvez achassem normal suspeitar de um sujeito estranho, e com um comportamento mais estranho ainda, como eu.
Fui embora sem comprar nada. Entrei na primeira lanchonete que encontrei e pedi um sanduíche e um refrigerante.