Tive a infeliz ideia de comentar uma
notícia com um de meus parceiros de Letras, sobre a possível criação da
presidente Dilma de um ministério para o Sr. Lula e arrependido pelo
comentário, tive que ouvir uma ladainha de lamentos, tipo daqueles homens
sofridos pela seca e pela miséria em nosso sertão, esquecidos e com a única
esperança: Vamos sobreviver!
Eu que esperava um outro tipo de reação,
como “vamos à luta”, ou então “isso é inconcebível, ou outra coisa qualquer que
comprovasse uma consternação ou uma indignação, pasmo, ouvi as seguintes
palavras:
- Não exagera! Vamos parar com essa
mania divina. O Brasil não vai acabar, nós sim.
- Tô falando de nós! Confirmei.
- Também acho que não, já sobrevivemos
ao Sarney, ao Plano Cruzado, ao congelamento de Poupança, ao AI 5, Axé Music, falta de água e
gás e etc.
Pensei que ele não fosse mais parar,
afinal, realmente, já sobrevivemos a muitas intempéries, como o golpe militar
de 1964, a perda da Copa no Brasil em 2014, o Zika e a Dengue, as filas
intermináveis nos hospitais, o Impeachment do Collor, mas parou e finalizou com
algo que me fez refletir: Brasileiro é que nem barata, sobrevive a tudo.
Já me imaginei como o personagem de
Franz Kafka do livro Metamorfose, me vi em frente ao monitor com as minhas
patinhas, clicando desesperadamente, enquanto as minhas antenas buscavam
informações pelo ar.
Porém essa conversa me levou a refletir,
seríamos mesmos esse inseto repugnante, que vive escondido pelas frestas,
porões e rede de esgoto, sem residência fixa ou própria, aguardando que o véu
noturno atinja os locais e assim saímos para festejar. Desarmados, frágeis e
impedidos de sermos aceitos pelos animais maiores, ficamos a nossa existência
comendo restos e na marginalidade.
Será que a verdadeira forma de encarar
essas intempéries sociais e políticas é continuar sendo como as baratas e se
esconder entre entulhos e buracos e ficar aguardando que passe o apocalipse?
Será que o lamento covarde, enfeitado de filosofias cotidianas, nos porões da
nossa sociedade, é menos dolorido que o grito corajoso enfeitado de ufanismo?
Você decide!
Nenhum comentário:
Postar um comentário