9 de março de 2016

METAMORFOSE - HOMEM OU BARATA? by Kiko Zampieri









Tive a infeliz ideia de comentar uma notícia com um de meus parceiros de Letras, sobre a possível criação da presidente Dilma de um ministério para o Sr. Lula e arrependido pelo comentário, tive que ouvir uma ladainha de lamentos, tipo daqueles homens sofridos pela seca e pela miséria em nosso sertão, esquecidos e com a única esperança: Vamos sobreviver!
Eu que esperava um outro tipo de reação, como “vamos à luta”, ou então “isso é inconcebível, ou outra coisa qualquer que comprovasse uma consternação ou uma indignação, pasmo, ouvi as seguintes palavras:

- Não exagera! Vamos parar com essa mania divina. O Brasil não vai acabar, nós sim.
- Tô falando de nós! Confirmei.
- Também acho que não, já sobrevivemos ao Sarney, ao Plano Cruzado, ao congelamento de Poupança, ao AI 5, Axé Music, falta de água e gás e etc.

Pensei que ele não fosse mais parar, afinal, realmente, já sobrevivemos a muitas intempéries, como o golpe militar de 1964, a perda da Copa no Brasil em 2014, o Zika e a Dengue, as filas intermináveis nos hospitais, o Impeachment do Collor, mas parou e finalizou com algo que me fez refletir: Brasileiro é que nem barata, sobrevive a tudo.
Já me imaginei como o personagem de Franz Kafka do livro Metamorfose, me vi em frente ao monitor com as minhas patinhas, clicando desesperadamente, enquanto as minhas antenas buscavam informações pelo ar.
Porém essa conversa me levou a refletir, seríamos mesmos esse inseto repugnante, que vive escondido pelas frestas, porões e rede de esgoto, sem residência fixa ou própria, aguardando que o véu noturno atinja os locais e assim saímos para festejar. Desarmados, frágeis e impedidos de sermos aceitos pelos animais maiores, ficamos a nossa existência comendo restos e na marginalidade.
Será que a verdadeira forma de encarar essas intempéries sociais e políticas é continuar sendo como as baratas e se esconder entre entulhos e buracos e ficar aguardando que passe o apocalipse? Será que o lamento covarde, enfeitado de filosofias cotidianas, nos porões da nossa sociedade, é menos dolorido que o grito corajoso enfeitado de ufanismo? Você decide!




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