9 de setembro de 2015

Desafio Espinho D'água de Contos - Pós-Apocalíptico - Apocalipse 12 - autor Leona Volpe



2000 anos. A virada do milênio. Não aquela dos computadores, mas 2000 anos depois da última bomba atômica usada na 4ª Guerra Mundial pelo controle do mundo e no final, era tudo sobre política.
Não tinha mais tanta política no futuro pós-apocalipse nuclear.
Ele se sentou em uma pedra no meio do deserto e observou a imensidão cheia de montanhas de areia. Muitos anos atrás, aquilo tinha sido o Pacífico e era cheio de água, ao ponto dos cientistas não saberem o que se escondia lá em baixo. Os novos homens da ciência não se preocupavam com os fósseis modernos engolidos pela areia, sua última e crucial busca era quase que tirar água de pedras.
Eles precisavam tirar água de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, para alimentar o que restou da humanidade.
O homem sentado riscou duas pedras e acendeu uma fogueira à sua frente. Desceu da pedra e deixou seu corpo se espalhar pelo chão, observando as estrelas no céu noturno, feliz que ao menos isso havia permanecido igual, ao menos o silêncio da noite e a sensação de ser apenas uma minúscula pulga com mania de perseguição, tinham permanecido na mente humana, indiferente do seu ambiente.
Fechou os olhos e deixou o sono tomá-lo aos poucos. Acordou um pouco mais tarde com um som oco de algo caindo, e depois outra vez, se repetindo compassadamente, como se algo muito pesado corresse em sua direção.
Ergueu o pescoço e na escuridão do deserto, ele enxergou há muitos quilômetros de onde estava, um enorme vulto distorcido. Uma coisa imensa que caminhava em sua direção. Da distância que estava era impossível dizer o que era, mas ainda assim, provocou um arrepio em sua coluna.
Puxou sua luneta da bolsa e a regulou para identificar a massa. Sua boca secou quando conseguiu o foco que queria e desejou que ainda estivesse dormindo.
Ao longe, uma nave invasora sobrevoava muito próxima do chão. As sete pontas localizadoras na parte frontal se moviam como cabeças de serpente e os tentáculos que evitavam que ela caísse no solo e sofresse dano pareciam como as pernas de um dragão. A grande hidra profetizada a tanto tempo emitia um som próximo de um rugido, com faróis que pareciam olhos em chamas.
A frente dela, em uma corrida pela própria vida, uma mulher disparava errante e (para sua surpresa) estava grávida.
Usava uma coroa estrelada na cabeça e sapatos brilhantes, com enfeites que se pareciam com o crescente lunar.
O vestido branco contrastava com o cinza da escuridão e da areia, enquanto ela fazia seu caminho para longe da nave.
Com um sentimento angustiado, o homem percebeu que ela não era humana e que mesmo assim estava sendo caçada. Tinha ido contra as regras? Iria trazer o salvador? A terra não podia ser resgatada e aquele era o último esforço do mal para neutralizar a esperança de uma espécie?
Esperou atônito para o momento principal: o resgate. Do cordeiro. Aquele que salvava a jovem da Babilônia-dragão.
A nave estava mais próxima agora e ele engoliu a seco. Onde estava o resgate? Mais alguns segundos e o fôlego dela estava se esgotando, podia ver agora o quão próxima ela estava, podia sentir seus músculos falhando. Ela iria cair de joelhos a qualquer momento e ser tragada para dentro do veículo de seus inimigos, devorada pela hidra.
Antes mesmo que pudesse se lembrar por que estava fazendo aquilo, ele se jogou em um passo longo e se aproximou dela, correndo ao seu encontro.
Conseguiu ver seus olhos mudarem, conseguiu ver sua expressão de incompreensão e surpresa e quando ele finalmente a alcançou, a nave pairou acima de ambos, com seus tentáculos ao seu redor, liberando a área do raio trator para abduzí-los.

 Segurou a respiração e puxou a pistola de dentro do coldre, e decidiu que aquela noite faria parte das escrituras sagradas.

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