Quando
Mario de Andrade escreveu Macunaíma, não imaginava que esse personagem poderia
ser utilizado como um exemplo de perfil do brasileiro. Sapeca e preguiçoso.
“Há
meros devaneios loucos a me torturar”, diz a letra da música Chão de Giz, de Zé
Ramalho, ou então, “A humanidade cresce diante do precipício”, diálogo no filme
“O dia em que a Terra parou”, tudo isso para ilustrar o pensamento filosófico
do brasileiro, que infelizmente não tem individualidade, é apenas um conglomerado
de pensamentos estrangeiros numa mente infantil e preguiçosa, como Macunaíma.
Ficamos
alerta aos problemas sociais, gritamos esbravejando até o início do capítulo da
novela, as votações e espiadinhas nos Reality Shows, ou no apito do juiz
anunciando o começo da partida de futebol ou pior ainda, as cenas repetidas,
cansativas e hipnotizantes sobre um crime. “Corta prá mim” ou “Na tela”, viraram
bordões, daí em diante voltamos para o nosso sofá em posição fetal e procuramos
um culpado para essa nossa covardia.
O povo
brasileiro é trabalhador, gritam os entusiastas e ufanistas, porém sabemos em
nosso íntimo, que temos as maiores emendas de feriados e um volumoso, e
rentável, número de atestados médicos mentirosos. E depois reclamamos que nossa
Saúde não presta, nossos médicos não são dedicados, afinal quem os criou.
A mesma
coisa sobre os políticos e juízes de direito, eles são frutos desse mesmo povo
que reclama de falta de ética, da corrupção, contudo, não são eles corruptos e
sim o povo desse país. Claro, lembrando sempre, que toda regra tem a sua exceção,
o problema é que todos se acham uma exceção.
No
humor, se confunde a comédia com a prática excessiva de bulling, por isso somos sapecas. Preferimos filmar alguém sofrendo
uma queda ao invés de tentarmos ajudá-la, rimos de pessoas diferentes ao invés
de compreendê-la e ainda tratamos melhor um animal irracional do que um
semelhante.
Somos
um povo que desconhece o poupar e não nos incomodamos de estar na lista negra
dos inadimplentes. Temos um partido que se diz dos trabalhadores, pergunto:
Qual lei foi criada nesse período que beneficiou o trabalhador. Getúlio Vargas,
apesar de ser considerado um ditador, criou a Carteira de Trabalho, o FGTS e a
CLT.
Tudo
está errado, porém quem pode mudar tudo isso? O povo, mas se o povo ainda é
filho de Macunaíma, será apenas um Círculo Vicioso.
Ainda
bem que ainda existem as pessoas simples, que acordam bem cedo, lotam os
transportes públicos, carregam marmitas, estudam à noite e dormem cinco horas
por dia e que nos atendem nos finais de semana e feriados prolongados, contudo
calam-se pelo medo de perder o pouco que conseguiram.
A
História da Humanidade nos ensinou que só foi possível uma mudança geracional,
quando estavam envolvidos, os filósofos, os pensadores, os estadistas e os
gênios. Onde podemos encontrar essa nata em nosso país? Se é que existem, penso,
estão em letargia.
Kiko
Zampieri
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