17 de julho de 2006

O MEDO MAIOR

Um sistema carcerário falido, desumano, que gera rebeliões comandadas por uma facção criminosa que faz pelo preso o que o estado deveria fazer e não faz, ataques a policiais, a delegacias, ao corpo de bombeiros; ônibus e caminhões de lixo incendiados, e agora agentes penitenciários como alvos; ações paliativas da polícia, matando suspeitos, muitos deles sem antecedentes criminais e alguns com sinais claros de execução, população aturdida, sem saber o que fazer, sem saber em quem confiar. A mídia, de uma forma geral, como sempre, abordando o assunto com extrema falta de cuidado, conhecimento de causa e foco nas questões realmente relevantes. E o governo, inerte como sempre, apelando para medidas paleativas inúteis, que no decorrer do tempo acabam por agravar ainda mais a situação que já é gravíssima.
De tudo isso, o que me dá um medo maior, é essa sensação de que nada será feito, que o caos será cada vez maior nas ruas, e essa atitude sempre incoerente do governo que poderá causar o maior dos males, o costume. Meu medo é que a gente acabe se acostumando com mais essa tragédia social, porque essa é uma conseqüência direta do discaso social do estado com a situação do povo desse país infinito.

A MÍDIA: quase sempre age de maneira pouco cautelosa, tratando os fatos de forma contigente. Eu quase não acreditei quando vi Erasmo Dias, um dos nomes mais atuantes e brutais da ditadura militar, dando uma entrevista sobre os fatos ocorridos. É sempre assim, chamam Afanázio Jazadi, Conte Lopes, Coronel Ubiratan, ex-governador Fleury Filho. E a pergunta é simples: do quê que essas pessoas entendem? ora, a resposta também e simples, repressão. Exigem mais policiamento, mais poder para a polícia, enfim, repressão, violência, olho por olho, dente por dente. Mas o que que mais se fez durante toda a história do Brasil senão reprimir com violência os mais fracos, os mais pobres, os índios, os negros, as mulheres, os velhos, as crianças, os doentes, os que sofrem com algum tipo de deficiência, os homossessuais e os não-católicos?
A polícia brasileira é a que mais mata no mundo, e o que adiantou? A população carcesária brasileira é uma das maiores do mundo, e o que adiantou? Se tudo isso não tivesse servido pra nada, seria até lucro, mas essa postura gerou frutos, sim. Uma revolta, agora, incontida, incontrolável, que não vai perdoar ninguém, nem maus nem bons, inocentes ou culpados. Todos nós teremos cadáveres para velar. Mas quem é inocente?

O GOVERNO: age com a mesma indolência que acabou causando toda essa situação calamitosa. Sugere medidas paliativas, inúteis, achando que pode apagar um incêncio com cuspe. Eles, os políticos, dão a prova cabal de que só pensam neles mesmos e pensam, pior pra eles, que essa violência toda nunca chegará até eles. Às vezes penso que só quando os políticos, os advogados, os jornalistas e os artistas forem alvos mais constantes dessa violência, alguma providência realmente concreta e eficiente será tomada, pois parece que no Brasil essas pessoas é que são gente de verdade, pra eles o povo é que nem lixo, que nem rato. Eles dizem no jornal "Morreram dez nesse fim de semana". Dez o quê? Dez pessoas, ou dez baratas, dez cachorros? Agora quando é alguma "celebridade" que morre, ganha destaque e recebe todo tipo de homenagem. As coisas não podem mais continuar assim, ou alguém pensa de outra maneira?

O POVO: a postura é a mesma, "a culpa é do governo, eu não tenho nada a ver com isso, eu não posso fazer nada, a obrigação é do governo, eles lá em Brasília é que têm que resolver" Francamente, a questão é muito clara: os governantes querem mais é que a gente se fôda. Ou fazemos algo por nós mesmos, ou então estaremos fudidos e mal pagos. Sem nenhuma chance de reverter esse quadro de miséria, ignorância, corrupção, violência, descaso social, insegurança, chacinas, juventude perdida, infância abandonada, idosos desreipeitados. Nós por nós contra eles e eles, sem ninguém, se acovardarão, cederão à pressão de um povo que cansou de ser espizinhado e tratado como se fosse uma tralha imprestável, um monte de merda.

E se amanhã ou depois, quando você ligar a tv e ver mais um desses ataques a ônibus, mais uma chacina, mais uma notícia de corrupção, mais uma rebelião e suspirar "de novo" como se essas fossem novidades antigas, requentadas, tome cuidado, pois será sinal de que o fim está bem próximo. E pelo que vejo, deus não está muito disposto a resolver os problemas que nós criamos para nós mesmos. E esse é o meu medo maior.

Nenhum comentário: