Jennifer estava cansada, a vista turva e uma leve tontura, parecia
estar entorpecida pela longa viagem. Quando avistou aquele hotel, suspirou e
acelerou seus passos para chegar até a recepção.
Era uma jovem corajosa, passara sua vida lutando para sobreviver, maus
tratos na família, namoros violentos, bebida e até droga pesada. Conseguira
sobreviver e agora queria encontrar uma paz tão procurada, num lugar com muito
sol, praia e tranquilidade e quem sabe um homem decente que a amasse.
Nada havia sido planejado para aquela viagem, nem estar diante daquele
hotel. O salão estava sombrio e vazio e um balcão no fundo indicava ser a
recepção. Um homem vestindo um terno preto, camisa branca e uma gravata
borboleta vermelha a aguardava atrás daquele balcão.
Colocou a pequena mala no chão quadriculado com pisos brancos e pretos
e pediu um quarto. Sem dizer nenhuma palavra, virou o livro de registros e
assinalou para que ela preenchesse. No alto da folha, em letras douradas, o
nome do hotel. Hotel Califórnia. Sorriu ao lembrar da música do seu passado. Depois
recebeu a chave do número 13 e seguiu pela escadaria, ficava no primeiro andar.
A luz era pálida e ela teve que subir com cuidado, depois o corredor com a
mesma luz até a porta, abriu, buscou o interruptor, a mesma luz, jogou a
pequena mala sobre a cama e foi até a janela, abriu as cortinas e pôde ver a
rua escura e deserta. Fechou as cortinas e foi se sentar na cama, destravou os
dois ferrolhos da mala e abriu. Uma camisola bege de algodão, era a única peça.
Tirou sua roupa e vestiu a camisola, queria dormir e poder ver o sol entrando
pela sua janela, pela manhã.
Um grito vindo do corredor a despertou. Outro grito agora mais perto.
Seu corpo tremeu. Uma luz vermelha invadiu sua janela e os vidros se
estilhaçaram pelo chão e sobre a cama. Ela correu até a porta. Não abria.
Sacudiu com mais força. Nada. Uma sombra passou por ela e pela porta, virou-se
e não havia nada, nem a luz vermelha e nenhum vulto. Outro grito, agora vindo
do andar de baixo. Sacudiu a porta novamente, abriu. Deparou no corredor várias
pessoas correndo desesperadamente para a escadaria. Um incêndio. Um terremoto.
Seguiu as pessoas pela escadarias. Um passo em falso a fez rolar pelos degraus
até o chão quadriculado. Não havia ninguém. Outro grito e dessa vez no andar de
cima. Seu corpo estava trêmulo, pelo medo ou pelo chão frio, não sabia, queria
se levantar e sair daquele lugar. O balcão estava vazio, as luzes começaram a
piscar. A porta de entrada trancada. Entrou em desespero. Outro grito, agora
mais próximo dela, virou-se e um homem enorme descia pela escada. Uma das mãos
carregava um enorme facão e na outra uma cabeça segura pelos longos cabelos.
Outro grito, agora era o seu. Encontrou forças e saiu da porta no exato momento
em que ela foi arrebentada e um vulto surgiu da escuridão.
Era um homem alto, capa de chuva negra, um chapéu de abas largas que
cobriam parte do seu rosto, botas e na mão uma Winchester 33, com o cano
niquelado e brilhante. Ele ficou ali parado debaixo da soleira. Ela estava
paralisada, mas foi se acalmando quando os olhos dele fixaram nela e sentiu um
certo conforto correr por suas veias. O homem voltou-se então para o outro que
estava parado no final da escadaria e descarregou cinco tiros. Dois no peito que
o fizeram dar um passo para trás, um em cada joelho que o fizeram desabar sobre
o piso quadriculado e o último de misericórdia na cabeça, fazendo-a se espalhar
pelo chão.
Ela estava toda encolhida sobre uma das cadeiras estofadas, sentiu uma
mão macia e quente segurar em braço e a levantar. Então foi erguida pelos
braços fortes, ajeitada no peito do seu salvador, estava se sentindo segura
agora. Foi caminhando pelo salão, subiu as escadas e com o pé abriu a porta do
quarto dela. Delicadamente colocou-a sobre a cama e a cobriu. Ela sorriu e
apertou a mão dele, como se não quisesse deixá-lo ir. O cansaço era maior e
seus olhos foram se fechando descontrolados, antes que adormecesse pode ouvir o
estranho gritando ordens a um grupo de anjos na porta.
- Diminuam a dosagem da Amitroptilina e pelo amor de Deus, mantenham as
correias presas! Vocês pensam que isso é um hotel?
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