24 de junho de 2015

O SPA - autor Kiko Zampieri






     Abri a porta de madeira com entalhes de metais e lá dentro apareceu um grande quintal. Totalmente arborizado, um gramado aparado e no centro uma fonte com aquele menininho fazendo “xixi”. Fui caminhando pelas lajotas de cimento até uma grande porta de vidro, que se abriu assim que me aproximei. Era um lugar lindo, perfumado, com aquele aroma de incenso indiano, o chão mais parecia um espelho, o teto ornado com lindos lustres de cristais. Estranhei que o local estava vazio e bem calmo, mas afinal era um SPA e SPA é assim mesmo, calmo e silencioso, para as pessoas tirarem o estresse. No fundo do salão estava uma menina atrás do balcão, sorrindo e aguardando que eu me aproximasse. Eu estava meio sem jeito, afinal era a primeira vez que estava num lugar desse “naipe”. Cumprimentei-a e fui correspondido. Ela então saiu de trás do balcão e fez um sinal para que eu a acompanhasse, assim o fiz, tenso e ao mesmo tempo curioso.Ela segurou uma porta de vidro enquanto eu entrava. Era um corredor longo com portas dos dois lados, acho que havia umas doze portas. Fomos caminhando e ela ia falando sobre as atividades no SPA, massagem, banho de leite, yoga, sauna e outras recreações. Chegamos então em frente de uma porta onde estava escrito vestiário masculino.
     - Aguardarei aqui até o senhor voltar. Informou.
     Rapidamente vesti a sunga preta e me cobri com o roupão branco do SPA, o chinelo de borracha e lá fui eu. A primeira porta era uma saleta coberta por ladrilhos e pisos brancos e uma grande maca no centro, não era um lugar muito espaçoso, um abajur no canto que emanava um luz azul e o som de quedas d’água, que saíam de um aparelho de som, bem tranquilas. Ela me ajudou a tirar o roupão e o colocou sobre uma pequena cadeira ao lado, tirei o chinelo e subi na maca ficando de barriga para cima, como ela havia instruído.
     Ela puxou uma mesinha com vários frascos sobre ela, abriu um deles, despejou um pouco em uma das mãos e as esfregou uma na outra, depois calmamente foi alisando meus pés, me controlei, pois morria de cócegas nos pés, passava o polegar com firmeza na planta dos pés, depois os envolvia com a mão, um de cada vez e ia fazendo movimentos de vai e vem, ainda bem que eu estava com uma toalha sobre a sunga, senão passaria vergonha. Em seguida, colocou novamente o óleo nas mãos e foi massageando do meu tornozelo até o joelho, dessa vez ficou na lateral da maca e podia ver pela transparência do avental branco com o nome do SPA escrito em letras douradas todo o seu perfil inferior. Passou então para as coxas e quase atingindo as minhas virilhas, fechei os olhos, não ia aguentar muito tempo, com aquelas mãos macias e untadas correndo pelas minhas coxas. Aguentei.
Depois foi para o abdômen, peito, braços, ombros e finalmente a cabeça, adormeci levemente, agora sabia o porquê das mulheres e homens gastarem tanto dinheiro para ficarem dias e dias num SPA, era maravilhoso e relaxante.
     Uma meia hora depois ela pediu que eu me virasse de costas e começou tudo de novo, fiquei mais tranquilo pois o perigo estava escondido entre o meu corpo e a maca. Mais meia hora e ela pediu que me vestisse, ajudou-me a colocar o roupão e o chinelo e fomos pelo corredor até uma outra porta.
     A sala era um pouco maior que a anterior, os pisos e azulejos eram iguais, não havia música e a luz era forte. No centro uma banheira de madeira, que ela depois me informou que era um “Furô”, não entendi na primeira e nem na segunda, mas deixei para lá, o importante era entrar naquela banheira. Ela novamente me ajudou a tirar o roupão e o chinelo e entrei na banheira. Para minha surpresa estava cheia de um líquido branco, que depois ela me informou que era leite de cabra, a primeira impressão fora de nojo, depois me senti ridículo naquele lugar, afogado no leite de cabra misturado com pétalas de rosas vermelhas e algumas ervas, como ela explicou, porém fui me acostumando e relaxando, só não esperava que ela também tirasse o seu avental, deixando exposto um corpo escultural e coberto por um maiô preto com o nome do SPA em letras douradas e entrar do outro lado da banheira. Sem me questionar, foi entrando na banheira ou furô, bem devagar para não espalhar o líquido pelo chão. Então pediu que eu me virasse de costas para ela e começou a me massagear, começou pela cabeça, fazendo movimentos com seus finos dedos em meu couro cabeludo. Ela percebeu que eu já não estava mais relaxado e forçou meu corpo para que minhas costas ficassem encostadas em seus seios. Daí passou a massagear o pescoço e em seguida descendo para os ombros.
     Eu já estava a ponto de explodir sentindo aquelas mãos macias em meu corpo e os dois joelhos em cada lado do meu tórax, não sei se era impressão minha, mas algumas vezes sentia seu dedão roçar as minhas coxas.
     Subitamente me puxou ainda mais para que encostasse minhas costas e foi esparramando o leite pelo meu peito e movimentando as mãos circularmente, enquanto a minha cabeças caía sobre um dos seus ombros e sentir bem de perto aquele hálito fresco e mentolado. O que me deixava mais aflito era quando ela perguntava se eu estava relaxado, como poderia ficar relaxado com tudo aquilo junto de mim, respondia que sim por educação.
     Achei que ali iria terminar, estava enganado, completamente enganado. Ela saiu primeiro, se enxugou e depois pegou outra toalha e me ajudou a descer da banheira e me secou, me secou por completo. Pegou a minha mão e me puxou para o corredor. Agora deveria ser um banho de piscina ou uma suada na sauna.
    Quando a porta se abriu, quase tive um “treco”, era um quarto iluminado pelo vermelho das lâmpadas do teto, o carpete também vermelho, uma cama redonda na frente, um baita espelho no teto e um globo girando e espalhando pequenos fachos de luzes coloridas pelo teto e pelas paredes. Entrei e no meu íntimo agora seria a hora do real desfrute do SPA, ia tirar o roupão, mas ela impediu. Pediu que me sentasse na cama, obedeci sem pensar. Ela foi até o outro canto e tirou seu avental, começou então a dançar, agarrada a uma barra de metal do teto até o chão, parecia uma cobra enroscada num galho de árvore, eu não estava aguentando. Então ela levou as duas mão para as suas costas e começou a abrir o fecho do sutiã, foi trazendo os braços para frente e...
     - Waldemar! Acorda! Precisa fazer a ronda!
     Na mesa uma revista magazine com destaque uma propaganda de um SPA. “Venha se deleitar e relaxar no SPA Paraíso.”



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