Dinheiro é um pedaço de papel, já cantou Arnaldo Antunes.
E por causa desses pedaços de papel, muita gente faz muita coisa.
Por esses pedaços de papel muita gente se animaliza. Por esses pedaços de papel muitos animais são mortos e sua pele, seus dentes e carnes são vendidos. Com muita quantidade desses pedaços de papel, muitas pessoas se acham melhores do que são, e pela falta deles outras se acham inferiores. Pedaços de papel de muitas cores: verdes, azuis, cor salmão, amarelas; e usam desenhos de animais para estampá-los. Pedaços de papel, pedaços de gente. Por esses pedaços de papel, muita gente compra, muita gente se vende. E por não ter esses pedaços de papel, muitas coisas úteis e necessárias são negadas para muitas pessoas.
As pessoas deram aos pedaços de papel o poder de dar um preço a quase tudo, a quase todos, mesmo que quase todos neguem ter um preço. Por esses pedaços de papel gente come do bom e do melhor, e pela falta dele, gente passa fome e fica desabrigado. Pedaços de gente, sonhos despedaçados. Os pedaços de papel transformaram muitas pessoas em máquinas, e deram às máquinas uma importância maior do que às próprias pessoas. Os pedaços de papel transformaram muitas coisas supérfluas em artigos de primeira necessidade e pessoas necessárias em seres supérfluos. Para arrecadar cada vez mais pedaços de papel eles nos impõem impostos, taxas, cobranças; exigem de nós o que não podemos dar e não nos dão o que deveríamos ter por direito. Por esses pedaços de papel o que foi verbalmente acertado não vale, só vale o que está escrito e registrado oficialmente em outros papéis. Por esses pedaços de papel só damos valor a esses pedaços de papel.
Sonhos despedaçados. Desesperadas criaturas. Mundo despedaçado. Tudo em pedaços por causa dos pedaços de papel.
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