23 de dezembro de 2007

MAIS UM DIA

Pelas ruas da grande metrópole a miséria levanta sua minissaia e exibe suas pernas, que outrora reluziam no furor da juventude, mas que agora, não escondem mais a decadência e a pouca curiosidade que lhe restou. Há que se andar com o nariz tampado, tomando cuidado para não tropeçar nos mendigos que se multiplicam pelas ruas sujas e enegrecidas do centro de toda e qualquer cidade metropolitana do Brasil. Os sentimentos se confundem; revolta, raiva, vergonha, medo, pena, tristeza, desilusão e desgosto. O sol do meio-dia vai queimando o asfalto e azedando o cheiro de urina e suor; nas portas das lojas de roupas e calçados de quinta categoria em promoção as almas se aglomeram, acotovelam-se, misturando suas fragrâncias dos desodorantes de essência de alfazema. A tarde cai e o crepúsculo avermelhado do pôr-de-sol se confunde com as cores dos luminosos de néon das boates e cinemas pornôs que têm seu movimento aumentado consideravelmente. Vem a noite, o frio e o calor; o cheiro de bebida e o som ligado em alto volume tocando forró, pagode e música sertaneja. O frege da putaria parece ecoar o som de um monstro de sexo, decadência e fetiches. A madrugada avança, o furor vai diminuindo, o silêncio e o sereno se impõem sobre todas as orgias e frustrações ocorridas horas antes; o perigo espreita. Os inimigos gostam de matar e roubar no limiar rotundo entre o fim da noite e o orvalho da alvorada. Os ônibus voltam a circular pelas, o dia mostra sua cara amassada e no céu o sol insurge novamente, convidando o mundo a apreciar mais um dia pleno, inútil e intenso, como todos os outros dias do ano.

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