6 de outubro de 2007

NO SUPERMERCADO (Conto)

No supermercado eu carregava a cestinha de compras me sentindo um perfeito idiota; ainda estava mal, mas era preciso comprar algo pra comer. Não podia mais ficar gastando dinheiro em lanches nas padarias e restaurantes self-service que enfiavam a faca nos clientes; se eu continuasse assim, não sobraria nada do pouco dinheiro que me restou. E não há nada pior do que homem solteiro fazendo compra em supermercado. Eu nunca sei direito o que comprar, aliás, sei, mas na hora acabo comprando um monte de besteiras. Fiz outra lista dessas bobagens que sempre compro:

1. Refrigerante.
2. Sardinha enlatada.
3. Pão de fôrma.
4. Macarrão instantâneo.
5. Goiabada.

Enquanto andava pelos corredores do supermercado e olhava os produtos nas prateleiras, eu observava o comportamento de algumas pessoas que também estavam ali fazendo compras – não há lugar melhor para se observar as pessoas do que o ambiente de um supermercado –. Casais mais velhos, com um comportamento ranzinza do marido com a esposa e vice-versa, nessas horas eu dava graças a deus por não ser casado, e ainda me perguntava se era pra isso que as pessoas se casavam; me lembrei dos meus pais, da forma como meu pai tratava minha mãe, com desprezo e superioridade, como se minha mãe fosse uma inútil qualquer. Eu viajava nas minhas divagações; andava despreocupado pelos estreitos corredores do supermercado, e isso levantava algumas suspeitas. Muitas vezes, eu passava por trás dos seguranças e, sem que eles percebessem, os via dando minha descrição pelo rádio; como eu estava vestido e o meu comportamento esquisito, e quando eles se viravam e me viam encarando-os, saíam andando sem muito constrangimento, talvez achassem normal suspeitar de um sujeito estranho, e com um comportamento mais estranho ainda, como eu.
Fui embora sem comprar nada. Entrei na primeira lanchonete que encontrei e pedi um sanduíche e um refrigerante.

Nenhum comentário: