9 de abril de 2007

A Fragrância do Coração

Sentou-se ao meu lado no ônibus; era tão cheirosa. Tão cheirosa que me chamou a atenção; não usava o mesmo perfume que a maioria das outras mulheres usava; era uma fragrância leve e ao mesmo tempo densa e marcante. Para personificar aquele agradável odor a figura da menina era lindíssima; era baixa, talvez não mais de um metro e sessenta de altura (para mim a altura é indiferente), branca (para mim a cor da pele é indiferente), e usava óculos (admito que os óculos são a minha queda) e se valia de toda a feminilidade possível para executar qualquer movimento que fosse. Logo fiz a primeira coisa que sempre faço quando encontro uma mulher que chama a minha atenção, olhei para os dedos anelares das duas mãos e percebi que ela não usava aliança em nenhum deles; isso aumentou meu interesse. Usava uma jaqueta jeans azul por sobre uma vestido curto de algodão que lhe caia a saia bem no meio das belas coxas alvas e bem torneadas. Essa visão, ainda que de esguelha, para não me denunciar, me excitou, mas era uma excitação diferente, quase não sexual; porém, é impossível negar que entre minhas pernas não intumesceu o órgão, que até então se mantinha incólume. Mas era um o desejo sexual mais delicado, sensivelmente táctil, se é que isso era possível; minha ânsia não era penetrar-lhe e vê-la gemer de prazer e dor. Não. Me movia a vontade de apenas e tão somente abraçá-la, acariciar-lhe os cabelos pretos, longos e lisos, beijar o vão côncavo de sua clavícula, apertar seus pequenos seios rijos contra meu peito, e nada mais precisava para eu ir ao auge de minha libido. Repito que o perfume dela era o que mais me excitava, um odor que me seduzia, me fascinava. Ela, vez por outra, me olhava, atraída pela curiosidade de saber por quê que eu tanto a olhava. Seus pés em sandálias completavam seu aspecto simples, meio prosaico, porém elegante e sensual. Três pontos antes do meu, ela apertou a campainha, o ônibus parou, ela desceu e nem sequer voltou seu olhar para dentro do ônibus, na minha direção. E eu, que antes de pegar aquele ônibus era apenas cansaço, depois que aquela menina se foi, acrescentei à fadiga muscular e à faina de espírito um certo descontentamento e desilusão de não ser o dono daquele coração tão perfumado.

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