20 de setembro de 2006

10 Andares (conto)

A luz dos holofotes quase me cegando quando nasci (não sei se isso foi uma recordação real ou uma ilusão da minha alma); o primeiro beijo roubado aos doze anos de uma coleguinha de quinta série; a taquicardia e o medo quando tinha dez anos e roubei uma revista em quadrinhos que não tinha dinheiro pra comprar; a primeira vez que eu disse "eu te amo" e a última que ouvi "eu te odeio"; a primeira relação sexual, o primeiro orgasmo, a primeira broxada; as vezes em que eu pensei em matar-me; os fracassos amorosos, profissionais e existenciais; a dor de velar o corpo da minha própria mãe morta; a dor lascinante do primeiro osso quebrado; o prazer de acertar um soco na cara do moleque que me ofendeu na quarta série; a vergonha que senti e a humilhação pela qual passei no dia em que fui largado por minha noiva no altar, eu realmente a amava; o último suspiro do meu cachorro antes de morrer; os passos contados nas escadas até a chegada no parapeito e o salto. E talvez, se o prédio tivesse mais de dez andares eu teria me lembrado de mais coisas antes do impacto com a calçada coberta de brita.

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