No baile de formatura. Lá estava Pedro Lucas, nosso protagonista de uma
série de histórias que lerão a seguir, copo com Gin Tônica na mão e o olhar
aguçado nas jovens cheias de vida, que dançavam pelo salão.
Era um “cara” não muito comum, um metro e oitenta, corpo atlético,
cabelos negros e curtos, olhos castanhos e pele amorenada. Profissão: Filósofo,
ou seja, professor de Filosofia na rede estadual de ensino. Era nos bares,
baladas ou boates, onde exprimia melhor a filosofia, artifício para suas
melhores “cantadas”, que permitiam nunca sair sozinho no final da noite. Um
amante mediano, bom nas preliminares, porém rápido nas finalizações, com
“atributos” um pouco fora da média dos brasileiros, impressionava o sexo
feminino com esmero, mas sem continuidade. Seus relacionamentos não duravam
mais que um período lunar, eram fogosos na primeira vez, morno na segunda e não
chegavam na quarta vez.
Nascera de um rápido relacionamento num cruzeiro pelas ilhas gregas,
sua mãe, estudante de Hotelaria, teve um “affair” com o imediato do navio,
Christopoulos, grego, moreno, forte e com os traços do Mediterrâneo, como ela
sempre contava, fora feliz por alguns minutos e ganhara a felicidade de uma
vida inteira com o nascimento de Pedro Lucas, em grego “Rochedo Luminoso”, em
homenagem a paisagem que vira pela escotilha enquanto acolhia o seu “Deus
Grego” sobre o seu corpo suado e arfante.
Voltando a festa de formatura, como um predador em busca de uma presa
fácil, estava atento ao meio do salão, caminhava ao redor sempre com o olhar
naquela multidão de jovens formandas e convidadas. Até que seu corpo parou e
seu olhar ficou fixado em uma das mesas onde uma mulher, vestida de vermelho e
de costas para ele, balançava seu corpo com sensualidade amena, não conseguiu
ver seu rosto e também não conseguiu se aproximar, muita gente ao redor daquele
local, ficou olhando por entre corpos, mesas e pedidos de licença, aquele corpo
marcado pelo vestido justo e com abertura na lateral, deixando à mostra uma
linda coxa torneada. Estava absorto pela imagem e ficou estático por alguns
segundos, o bastante para que ela se virasse e deixasse que visse a imagem de
uma deusa e pior, olhando fixamente para ele. Seu coração pela primeira vez
trepidou e um soco imaginário atingiu seu estômago em cheio, o copo que
segurava balançou e um pouco do líquido saiu pela borda tombada. Ela sorriu e
começou a caminhar até ele. Pela primeira vez ele não conseguiu expressar
nenhum trejeito de conquista. Um convite veio da boca vermelha, misturada num
som hipnotizador. O copo quase caiu da sua mão, quando ela se aconchegou em seu
peito e segurou sua mão que estava vazia e seguiu as notas musicais, ele estava
completamente dominado pela forma e pelas atitudes daquela mulher. Acompanhou e
aos poucos foi se restabelecendo. Deixou o copo numa das mesas e colocou-a nas
costas nuas dela. Ficaram ali uma seleção inteira. Ao final ela beijou-lhe o
rosto e colocou um cartão em sua mão e se despediu, sem dar chance ao
galanteador e conquistador citar uma só frase de encantamento. Ficou ali parado
no meio do salão entre os desenhos feitos no chão pelos spots e globos
luminosos. Pela primeira vez saiu sozinho. Dormiu mal. Acordou nervoso.
No cartão havia um endereço e um dia de semana e um horário, sem telefone
e apenas um nome “Luz”, que provavelmente seria o nome dela ou um pseudônimo.
Guardou no bolso e voltou a sua rotina.
No dia e horário estava em frente a um prédio de apartamentos, entrou e
foi até o porteiro, parecia comum a chegada de alguém com o tipo de cartão,
pois ele olhou e apontou o elevador, sem nenhuma expressão. Sexto andar que
pareceram doze, pela ansiedade e a expectativa. Ouvira uma série de casos de
assalto e mortes, tremeu, mas prosseguiu, era uma experiência nova.
A porta do quarto estava destrancada, bateu duas vezes e ouviu uma voz
dizendo para que entrasse. Entrou. O quarto estava a meia luz, um pequeno hall
e depois um lindo quarto. Dispa-se foi o que ouviu e se banhe em seguida. Uma
cadeira e um mancebo de madeira lustrada, serviram para que ele colocasse sua
camisa, dobra-se a calça e colocasse na cadeira, os sapatos com as meias dentro
foram colocados embaixo da cadeira. Nu entrou no banheiro, esperando
encontrá-la, vazio. Toalha, sabonete novo, shampoo e condicionador. Meia hora
depois saiu e na cama envolta pelo lençol a dama.
Ficou encabulado, como um adolescente que teria sua primeira relação
sexual, estático, mudo e principalmente desorientado, e até surpreso consigo
mesmo, pois nunca estivera numa situação como aquela.
Foi ela quem tomou as iniciativas, as preliminares, as decorrentes e as
finalizações. Duas horas de sexo romântico, depois animal, depois romântico de
novo e finalmente animal. Ele perdera a luta corporal, ferido em suas partes
intimas, abdômen, peito e coxas. Ela se levantou como estivesse chegando,
suavemente abriu uma entrada na parede e desapareceu. Ele recebeu aquilo como
uma despedida e foi se levantando com dificuldade, caminhou até o banheiro e
quase soltou um grito com a marca mostrada no espelho de dois filetes de
sangue, agora quase secos, em sua garganta. Sua mente viajou pelos livros e
filmes sobre vampirismo, engoliu seco e se desesperou. Viver eternamente,
sugando sangue de gente inocente, um notívago, um monstro. Foi se acalmando, a
fatalidade estava feita, tomou um banho, vestiu a roupa e antes de sair tentou
forçar a entrada, não funcionou, saiu cabisbaixo, abriu a porta, temeu o sol,
mas nada aconteceu, acreditava que ainda não havia se transformado.
Na semana seguinte, mais calmo e sem nenhuma transformação, ficou de
tocaia próximo do prédio, de onde podia ver quem entrava ou saía. Pensou em
questionar o porteiro, mas achou ridículo, voltou para casa ao anoitecer.
Uma semana. Duas semanas. Três semanas. A vida voltara ao normal, as
aulas, as baladas, as cantadas e as mulheres, contudo nada parecia igual ao ato
que tivera naquele quarto com aquela mulher, tanto que em algumas vezes,
falhara ou tivera uma ejaculação precoce.
Foi depois de uma dessas falhas, saindo do motel com o seu carro, enquanto
a moça revoltada saía com o dela, viu na calçada aquela mulher, instintivamente
freou o carro e saiu em direção à ela.
- Está fugindo de mim? Indagou ela sensualmente e envolvente.
Sem que ele tivesse qualquer resposta, ela encostou seu corpo ao dele e
deixou que seus lábios, suavemente, envolvessem os dele e sua língua procurasse
a dele freneticamente. Pedro ficou de novo da mesma maneira que a primeira vez,
porém conseguiu resistir e a empurrou.
- Você quase me matou!
- Eu só me apaixonei. Disse sem tirar os olhos fixados nos dele.
- Pensei até que iria virar um vampiro. Mostrou as marcas ainda em seu
pescoço.
Ela insistiu e se aproximou, colocou suas mãos nas duas faces dele e
forçou para um novo beijo e dessa vez sem resistência.
No final das contas, lá estava ele se levantando todo moído, cansado e
ferido, porém dessa vez ela não saiu do quarto.
- Você virá toda semana, mesmo dia, mesma hora, ficará comigo por duas
horas, não vai me questionar e nem me vigiar. A única coisa que tem que saber é
que me apaixonei por você. Procurei você em muitos homens, jovens e mais velhos
e agora sou toda e unicamente sua. Ordenou e saiu pela entrada da parede.
Daquele dia em diante, Pedro Lucas se tornou um instrumento de prazer
daquela mulher, nunca questionou e nem a vigiou, apenas cedeu seu corpo ao bel
prazer daquela mulher. Também não se tornou um vampiro, no mínimo um zumbi
sexual. Está assim por vinte e dois anos e nem tem ideia de quando tudo isso
vai se acabar. O que o incomoda é que nesses anos todos ela continua a mesma
mulher da primeira vez.
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