8 de fevereiro de 2015

DESAFIO DE CARNAVAL: Siren - Leona Volpe

De Todos os Segredos da Meia Noite - Arco d´O Enforcado.



A Professora Índigo suavemente adentrou o circo, fazendo os saltos grossos dos seus sapatos baterem contra o chão de madeira das arquibancadas. Ergueu seu casaco e se sentou, ajeitando melhor seus óculos logo em seguida e focando calmamente na imagem à sua frente.
Era Carnaval, e a atividade circense tinha caído sutilmente por conta disso. Impressionantemente o Circo das Criaturas Extraordinárias estava bastante lotado e muitas pessoas vinham interessadíssimas em sua nova aquisição: uma sereia.
Duas figuras de negro se sentaram uma a cada lado seu. Ao seu lado esquerdo estava o hitman da Sociedade Fantasma, conhecido apenas pelo número 13. Ele tinha um pacote de pipoca em uma das mãos e um revolver carregado em seu coldre para qualquer eventualidade, muito bem escondido por seu casaco longo e grosso.
Do seu lado direito estava o Dr. Yuri Alexandrova, mais conhecido como Alexey, um famoso psicopata cujos dons para psicologia não podiam ser ignorados.
— Tem certeza de que é este o lugar? — Ela questionou à Alexey e ele sorriu dando de ombros.
— É um bom lugar para começar e eu quero ver essa sereia de qualquer maneira — ele piscou para ela e moveu seu rosto para o picadeiro quando as luzes Se apagaram.
A apresentação foi normal, até mesmo chata para quem já conhecia circos melhores e Índigo já tinha cruzado as pernas pela quinta vez, quando finalmente o ponto alto do espetáculo chegou. Tambores rufaram como um fundo musical dramático e os palhaços custosamente empurraram o que parecia ser um enorme tanque para o centro do local.
Ela se permitiu franzir as sobrancelhas, vendo os olhos de Alexey brilharam em triunfo e o queixo de 13 cair em completo choque.
Dentro do tanque havia uma criatura de pele dourada escura, era razoavelmente longo, com uma enorme cauda com escamas de bronze e barbatanas sedosas. Sua pele reluzia dentro da água como um dourado em um rio e seu cabelo castanho escuro era uma massa embaraçada flutuante.
O rosto era anguloso e triangular, com olhos maiores do que os de um ser humano, assim como o seu nariz quase não se erguia do rosto, se limitando a duas fendas escuras sobre os lábios finos. Podia ver o ondular das guelras em seu pescoço e a membrana que se esticava cada vez que ele afastava os dedos das mãos.
— Incrível — ela conseguiu processar, quando viu a criatura abrir os lábios e emitir um som ligeiramente melódico, como um canto de um mamífero aquático grande — ele obviamente não fala como nós.
Alexey moveu a cabeça de um lado para o outro, concordando, mas não completamente.
— Eu não teria tanta certeza — ele se ergueu e limpou as pernas de sua calça, convidando Índigo e 13 a o acompanharem.
— O que faremos agora? — 13 questionou, obversando seus lados, com a mão pousada sobre o punho da pistola.
— Vamos roubá-lo — ela se pronunciou, seguindo o psicólogo e contornando a parte externa do circo, evitando alguns transeuntes até conseguirem se esconder no local onde os animais eram guardados. Não demorou muito até que eles finalmente trouxessem o espécime que eles estavam procurando, ainda trancado em seu tanque.
— Não temos como mover o tanque, é impossível levar uma coisa dessa discretamente — o hitman disse se movendo ao redor do tanque e atraindo a atenção do sirenio no interior dele, novamente ele fez uma vocalização e desta vez ela não foi amigável.
Índigo se aproximou espalmando sua mão contra o vidro em sinal de paz.
— Consegue respirar se o tirarmos da água?
Ele moveu seus olhos dourados, com esferas de ouro derretido por todo o seu rosto e depois sinalizou que sim suavemente com sua cabeça. Ela respirou fundo e puxou a pistola de 13 de seu coldre, arrancando um muxoxo do moreno com a perda.
Bateu pesadamente o punho da arma contra o cadeado do tanque e após três golpes ele pendeu para o chão em pedaços. Ao invés de apenas abrir a tampa, o sirenio a empurrou violentamente, provocando uma rachadura em toda a extensão frontal do tanque.
Tudo o que Índigo pode fazer foi pular para o lado, quando a torrente de água quebrou a lâmina de vidro e a criatura foi empurrada para fora, carregada pela água e então bateu contra a parede do galpão, ofegante. Ele estremeceu com a súbita falta de água, fazendo suas guelras de abrirem desesperadas até que finalmente ele respirou pela boca e depois pelo nariz, fazendo seus pulmões aceitarem o ar que o rodeava.
Tão incrível quanto a troca de fonte de oxigênio rápida foi a maneira como as escamas da sua cauda se encolheram até se transformarem em um par de pernas trêmulas e incapazes de sustentar seu corpo. 13 se moveu para o lado dele, erguendo-o com seus braços e o auxiliando a ficar em pé.
— Estamos aqui para ajudá-lo — ele disse calmamente — sabemos que foi criado em um laboratório de pesquisas genéticas dele — ele apontou para Alexey e o russo ergueu as mãos assustadamente.
— Hey, não mate o mensageiro, eu só os ajudava a não enlouquecerem!
O sirenio fez um som gutural que fez o psicólogo se afastar alguns passos, temendo que ele descontasse seus anos de cativeiro na primeira pessoa que esteve envolvida que aparecesse. Ele limpou sua garganta e disse o mais calmamente que pode:
— Viemos libertá-lo, não será mais exposto como um animal, será protegido agora.
O sirenio tinha um olhar assustado e perigoso em seu rosto, conforme ele pôs um pé após o outro para andar. Rapidamente Alexey arranjou um par de calças de seu tamanho penduradas em um varal improvisado e jogou uma jaqueta sobre sua cabeça, para proteger sua identidade, conforme corriam para o carro.
— Vão notar sua ausência rápido — Índigo pensou alto, alcançando o volante e ligando o carro, um pequeno segundo antes de 13, Alexey e o sirenio estarem acomodados no interior. Pisou no acelerador com força e os pneus gritaram na curva fechada que fez para atingir a estrada.
— Estaremos muito longe quando eles notarem — o doutor disse alegremente, empurrando a jaqueta para longe do rosto da criatura — e precisamos dar um nome a ele.
13 lançou um longo olhar para o espécime sentado entre eles, observando-os atentamente.
— Você fala?
— Conheço algumas palavras — ele disse inesperadamente e todos olharam-no surpresos. Sua voz era bastante humana para uma criatura como ele.
— Achei que ele ficaria mudo, sabe? Como a sereia Ariel daquele conto de fadas antigo — Alexey disso com uma risada rouca — mas não acho que o príncipe iria querer qualquer coisa com ele, no final das contas.
Índigo estalou os dedos animada, agora muito distante do circo e mais próxima de sua casa.
— Aí está um bom nome: Ariel, é para ambos os sexos não é? — Olhou pelo espelho retrovisor para sirenio — o que acha?
— Eu gostei — ele pareceu não saber muito bem o que fazer com sua expressão para demonstrar que o nome lhe agradava.
13 deixou uma risada emergir de sua garganta enquanto abria a janela e puxava um cigarro de seu bolso, acendendo-o, puxando a fumaça e então a soltando pela janela.
— O bom é que ele nunca vai precisar de uma fantasia de Carnaval.


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