14 de dezembro de 2006

Paranóia

Existem fantasmas; fantasmas que esperam a noite cair, fantasmas que esperam o frio chegar; fantasmas que aproveitam o silêncio noturno; fantasmas que sibilam pelas costas para chamar a atenção, que passam como vulto, sem se mostrar. Em lugar nenhum e por isso mesmo onipresentes, eles se camuflam por trás dos latidos dos cães, nos distantes e esparsos tiros de armas de fogo nas ruas, nas goteiras das torneiras e chuveiros, nos talheres que caem da pia no meio da noite, no disparo do motor da geladeira, no ranger das portas, nos ruídos dos insetos que rastejam procurando comida. Os fantasmas são irrequietos e perseguidores.
Pode-se negar a existência desses fantasmas, mas eles existem crendo-se em sua existência ou não; eles dão ordens, fazem perguntas, sugerem loucuras, pedem o que você não pode dar, suplicam uma nova chance, ofendem aos berros, reclamam de tudo e todos, dão sugestões, dizem o que fariam se estivessem no meu lugar, me chamam de covarde, de tolo; dizem que não há mais tempo. Eles dizem que o barulho que vem do céu é do avião que está prestes a cair na minha cabeça; dizem que alguém pode me empurrar na linha do trem se eu ficar em cima daquela linha amarela; eles dizem que algum carro desgovernado pode invadir o ponto de ônibus onde estou e me atropelar. Eles gostam de me pôr medo. E antes do amanhecer chegar eles vão se indo, desaparecendo sem que eu saiba precisar quando eles me deixam só, mas com a certeza de que, quando a noite chegar, lá estarão eles novamente me atormentando a alma, fustigando meu espírito e espicaçando minhas poucas certezas. Esses fantasmas são mais paranóicos do que eu mesmo.

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