30 de agosto de 2006

Uma Cena Kafkaniana (conto)

Eu nada tenho contra as baratas, pelo contrário, me solidarizo com esses insetos que vivem tão pouco e num universo tão asqueirozo; porém, é uma questão de sobrevivência, deixar uma barata viva é saber que ela vai se multiplicar aos milhares. Por isso não hesito em esmagá-las assim que as vejo. Noite passada uma barata passou pelo canto da casa e assim que a vi, fui matá-la; depois de desferido o primeiro golpe, ela ainda mexia as pernas e as antenas. É sempre assim, elas nunca morrem com um golpe apenas, sempre é preciso o golpe de misericórdia. Dei-lhe mais uma chinelada, e quando parecia que a pobre já se ia dessa para uma melhor, ouvi um som vindo da sua direção; e apesar do nojo, me senti atraído e curioso por aquele ruído. Me agachei e aproximei meu ouvido o máximo que pude, tomando o cuidao para não tocá-la. A barata parou de emitir o ruído intermitente e suspirou:
-- Gauche!
E logo depois parou de se mexer e morreu.

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